domingo, 31 de março de 2013

Árvores podem ajudar a combater o crime



Segundo pesquisa, a presença de áreas verdes incentiva a interação social e gera um efeito calmante e mentalmente restaurador que inibe comportamentos violentos


Vanessa Barbosa
Exame.com - 26/03/2013
Chaval Brasil / Creative Commons{txtalt}


Mais do que embelezar a paisagem urbana e filtrar poluentes prejudiciais à saúde, as áreas verdes podem ser um poderoso aliado no combate à criminalidade nas cidades. É o que aponta uma pesquisa feita pela Universidade de Temple, do estado americano da Pensilvânia.

Segundo o estudo, a presença de árvores, arbustos e parques com vegetação bem cuidada nos centros urbanos ajuda a reduzir as taxas de certos tipos de crime, como agressão, roubo e furto, ao invés de estimular as práticas ilegais.

De acordo com os pesquisadores, o efeito dissuasor está enraizado no fato de a vegetação incentivar a interação social e supervisão da comunidade dos espaços públicos. Além disso, o estudo aponta atributo sutil: o poder que as áreas verdes têm de gerar um efeito calmante e mentalmente restaurador, o que inibiria comportamentos violentos.

Segundo os cientistas, a descoberta contraria uma ideia de longa data, particularmente em planejamento urbano, de que um alto nível de vegetação ajudaria a encobrir a atividade criminosa ou permitir a fuga do criminoso. A pesquisa, feita na cidade da Pensilvânia, mostra exatamente o efeito oposto.

"Isso só vem reiterar a necessidade dos gestores públicos levarem mais a sério o paisagismo urbano. O aumento de áreas de vegetação nas cidades não só melhora os indicadores ambientais e a qualidade de vida, como também pode ajudar a reduzir os níevis de criminalidade", ressalta Jeremy Mennis, professor associado de estudos de geografia urbana da Universidade.

fonte: www.planetasustentável.com.br

quarta-feira, 27 de março de 2013

Todos os seres que sentem dor merecem direitos humanos


RICHARD RYDER

27 de março de 2013 às 15:00

Tradução de Luiz F. M. Candido (em colaboração para a ANDA)
A palavra especismo me ocorreu enquanto estava deitado numa banheira em Oxford há 35 anos atrás[1]. Era como racismo ou sexismo – um preconceito baseado sobre diferenças físicas moralmente irrelevantes. Desde Darwin nós sabemos que nós somos animais humanos ligados a todos os outros animais através da evolução; como, então, nós podemos justificar nossa quase total opressão sobre todas as outras espécies? Todas as espécies animais podem sofrer dor e aflição. Animais gritam e se contorcem como nós; seus sistemas nervosos são similares e contêm as mesmas substâncias bioquímicas que nós sabemos que estão associadas à experiência de dor em nós mesmos[2].
Nossa preocupação com a dor e o sofrimento dos outros deveria ser estendida a qualquer “dorente”[3] [painient] – sensibilidade à dor – sendo independente de seu sexo, classe, raça, religião, nacionalidade ou espécie. De fato, se alienígenas vindos do espaço forem dorentes, ou se nós alguma vez fabricarmos máquinas que sejam dorentes, então nós devemos ampliar o círculo moral para incluí-los. A dorência é a única base convincente para a atribuição de direitos, ou, de fato, interesses a outros.
Muitas outras qualidades, tais como “valor inerente”, têm sido sugeridas. Mas valor não existe na ausência de consciência ou de consciência potencial. Então, pedras, rios e casas não têm interesses e nem direitos próprios. Isto não quer dizer que eles não tenham valor para nós, e para muitos outros dorentes, incluindo aqueles que precisam deles como habitats e que sofreriam sem eles.
Muitos princípios morais e ideais foram propostos ao longo dos séculos – justiça, liberdade, igualdade, fraternidade, por exemplo. Mas esses são meros trampolins para o bem supremo, que é a felicidade; e felicidade se torna fácil através da libertação de todas as formas de dor e sofrimento (usando as palavras “dor” e “sofrimento” de forma intercambiável). De fato, se você pensar sobre isso cuidadosamente você pode ver que a razão porque aqueles outros ideais são considerados importantes é que as pessoas acreditaram que eles são essenciais para o banimento do sofrimento. Na verdade, eles às vezes têm esse resultado, mas nem sempre.
Por que enfatizar dor e outras formas de sofrimento em vez de prazer e felicidade? Uma resposta é que a dor é muito mais poderosa que o prazer. Você não preferiria evitar uma hora de tortura a ganhar uma hora de felicidade? A dor é o único e verdadeiro mal. E quanto ao masoquista? A resposta é que a dor lhe dá prazer, que é maior que sua dor!
Um dos princípios importantes da dorência [painism] (o nome que dou a minha abordagem moral) é que devemos nos concentrar sobre o indivíduo porque é o indivíduo – não a raça, a nação ou a espécie – que faz o sofrimento real. Por esta razão, as dores e os prazeres de várias pessoas não podem significativamente ser agregados, como ocorre no utilitarismo e outras teorias morais. Um dos problemas com a visão utilitarista é que, por exemplo, o sofrimento de uma vítima de estupro de uma gangue pode ser justificado se o estupro dá uma maior soma total de prazer aos estupradores. Mas a consciência, seguramente, é delimitada pelas fronteiras do indivíduo. Minha dor e a dor dos outros estão então em categorias separadas; você não pode adicionar ou subtraí-las de um e de outro. Elas são mundos separados.
Sem experimentar diretamente dores e prazeres eles não estão realmente lá – nós estamos contando apenas suas cascas. Assim, por exemplo, causando 100 unidades de dor em um indivíduo é, eu diria, muito pior do que infligir uma única unidade de dor em mil ou um milhão de indivíduos, apesar de o total de dor no primeiro caso ser muito maior. Em qualquer situação nós deveríamos, portanto, nos preocupar primeiramente com a dor do indivíduo que é o máximo sofredor. Não importa, moralmente falando, quem ou o que o sofredor máximo é – se humano, não humano ou máquina. Dor é dor independentemente de seu hospedeiro.
É claro que cada espécie é diferente em suas necessidades e em suas reações. O que é doloroso para alguns não é necessariamente assim para outros. Então nós podemos tratar diferentes espécies diferentemente, mas deveríamos tratar o sofrimento igual sempre igualmente. No caso dos não humanos, nós os vemos impiedosamente explorados em fazendas industriais, em laboratórios e na natureza. Uma baleia pode levar 20 minutos para morrer após ser arpoada. Um lince pode sofrer por uma semana com sua perna quebrada em uma armadilha dentada de aço. Uma galinha de bateria vive toda sua vida incapaz até mesmo de esticar suas asas. Um animal em um teste de toxicidade, envenenado com um produto doméstico, pode permanecer em agonia por horas ou dias antes de morrer.
Estes são grandes abusos causando grande sofrimento. No entanto, eles ainda são justificados sobre a base que esses dorentes não são das mesmas espécies que nós mesmos. É quase como se algumas pessoas não tenham ouvido falar de Darwin! Nós tratamos os outros animais não como semelhantes, mas como coisas insensíveis. Nós não sonharíamos em tratar nossos bebês, ou adultos mentalmente deficientes, dessa maneira – mesmo que esses humanos sejam às vezes menos inteligentes e menos hábeis para comunicar conosco do que são alguns não humanos explorados.
A verdade simples é que nós exploramos os outros animais e lhes causamos sofrimento porque nós somos mais poderosos que eles. Isso quer dizer que se aqueles alienígenas anteriormente mencionados desembarcarem na Terra e se tornarem mais poderosos do que nós, gostaríamos que eles – sem discussão – perseguissem-nos e matassem-nos por esporte, fizessem experiências conosco ou nos criassem em fazendas industriais e transformassem-nos em saborosos hambúrgueres? Deveríamos aceitar sua explicação de que fazer todas essas coisas seria perfeitamente moral para eles porque nós não éramos de sua espécie?
Basicamente, tudo se resume à lógica fria. Se nós nos direcionamos para nos preocuparmos com o sofrimento de outros seres humanos então logicamente nós deveríamos nos preocuparmos com o sofrimento de não humanos também. É o explorador cruel dos animais, e não o protetor dos animais, que está sendo irracional. Mostrando uma tendência sentimental para colocar sua própria espécie em um pedestal. Todos nós, graças a Deus, sentimos uma faísca natural de simpatia pelos sofrimentos dos outros. Precisamos pegar essa faísca e transformá-la num fogo de compaixão racional e universal.
Tudo isso tem implicações, é claro. Se nós gradualmente levarmos os não humanos ao mesmo círculo moral e legal como a nós mesmos, então nós não seremos capazes de explorá-los como nossos escravos. Muito progresso tem sido feito com a sensível nova legislação Europeia nas décadas recentes, mas há ainda um longuíssimo caminho a percorrer. O reconhecimento internacional do estatuto moral dos animais está muito defasado. Há vários tratados de conservação, mas nada no nível das Nações Unidas, por exemplo, que reconheça os direitos, interesses ou bem estar dos próprios animais. Isso deve, e eu acredito que vai, mudar.
*Texto original de Richard Ryder, publicado na página do The Guardian em 2005.
Fonte: www.anda.jor.br

Crescem os conflitos pela água em 2012



Crescem os conflitos pela água em 2012

Em nota pública, Comissão Pastoral da Terra aponta que perto de 185 mil pessoas estiveram em conflitos por água no país

22/03/2013

Roberto Malvezzi (Gogó),
da CPT

Como era absolutamente previsível, cresceram de forma substancial os conflitos pela água em todo o Brasil em 2012, totalizando 115 conflitos, em 19 estados da União, envolvendo cerca de 184.925 pessoas. Uma das razões fundamentais, sem dúvida, é o registro dos conflitos acontecidos em função da seca (36), embora a própria Comissão Pastoral da Terra (CPT) reconheça que esse registro está aquém do real acontecido e em acontecimento, já que a longa estiagem não acabou.
Mas, a estiagem sozinha não explica o avanço dessa modalidade de conflito. Se abstrairmos os 36 conflitos registrados especificamente como oriundos da seca, mesmo assim totalizam 79, portanto, 11 a mais que em 2011.
Outra indicação séria que a seca não é a razão única do crescimento dos conflitos pela água é que aqueles registrados como oriundos da estiagem se concentram em apenas seis estados, sendo cinco do nordeste e um da região sul (Santa Catarina). Porém, quando nos debruçamos sobre os conflitos de água em geral, então eles abrangem 18 estados da federação. Dessa forma, podemos dizer que os conflitos pela água já adquiriram efetivamente uma dimensão nacional.
Os conflitos mais específicos, gerados pela seca, em muito diferem dos conflitos das longas estiagens do passado. Contam-se na história 41 “grandes secas”, a começar pela primeira registrada pelo Padre Fernão Cardin, de 1583/1585.
Já não temos as intensas migrações, a mortalidade infantil, os saques, as frentes de emergência e tantas outras situações aberrantes que caracterizaram socialmente um fenômeno que é natural. Porém, persistem as ocupações de bancos, órgãos públicos, fechamento de estradas, etc., normalmente para reivindicar políticas públicas e obras estruturantes que empoderem a população para os períodos de estiagem prolongada.
As secas acontecem todos os anos. A cada três décadas os períodos se emendam e elas se tornam mais prolongadas. É o que acontece no momento.
Já quando olhamos especificamente para a tabela dos conflitos pela água de forma geral, então eles estão presentes em todo o território nacional por outras razões: destruição e poluição de mananciais, impedimento de acesso à água, apropriação privada, não cumprimento de procedimentos legais. Esses problemas são causados em sua maioria esmagadora pela construção de hidrelétricas, barragens e açudes, mineradoras, comandados por empresários e ações dos governos estaduais e federal. Há um fenômeno não captado pelos dados que é a apropriação privada dos aquíferos subterrâneos, particularmente no Oeste Baiano, e também das águas de superfície para finalidade de irrigação. Mesmo assim, está evidenciado pelos números quem são os causadores dos problemas e quem são as vítimas.
O Brasil está desencadeando um processo paradoxal relativo à água: por um lado prossegue no rumo da privatização dos serviços de água; da construção de grandes obras que afetam o acesso das populações à água; da poluição de mananciais; da eliminação de mananciais pelo desmatamento e intenso uso da água para fins econômicos, principalmente a irrigação. Por outro lado desencadeou também um processo de abastecimento de água pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), no programa “Água para Todos” e no programa “Oferta de Água”, que inclui também a finalidade econômica. Vem daí a implementação de adutoras de médio e grande porte, sistemas simples de abastecimento para populações rurais, captação de água de chuva para beber e produzir, etc.
Esse paradoxo é por uma razão simples: a falta de visão sistêmica dos gestores nacionais os impede de relacionar a lâmpada com o interruptor, ou seja, não conseguem estabelecer uma política que permita o acesso à água e que também preserve os mananciais. A ganância do capital – hidronegócio –, apoiada pela política dos governos, desequilibra uma gestão que necessariamente deveria ser holística.
Com essa política os conflitos pela água vão estar em linha ascendente.
CONFLITOS EM 2012   NÚMEROS   ESTADOS   FAMÍLIAS   PESSOAS
SECA   36   6   5.201   26.005
ÁGUA   79   5+13=18*   31.784   158.920
TOTAL   115   19   36.985   184.925
*Cinco estados registraram tanto conflitos por seca quanto pela água; 13 só conflitos pela água – Total 18. Um, Alagoas, registrou só conflitos pela seca, perfazendo um total de 19 estados envolvidos nessa categoria de conflito.

sábado, 16 de março de 2013

Primeiro Seminário de Políticas Públicas, Direitos e Defesa dos Animais do Paraná: um gostinho de quero mais !





De Movimento Sos Bicho
No Primeiro Seminário de Políticas Públicas, Direitos e Defesa dos Animais do Paraná, numa iniciativa da Frente Parlamentar de Defesa dos Animais do Paraná, com o apoio do Deputado Estadual Stephanes Junior e com a participação do deputado Rasca Rodrigue, da Deputada Federal Rosane do PV, contamos com a presença do Deputado Federal Ricardo Izar Junior, que veio nos trazer as notícias nacionais a respeito da legislação em cursos e tramitações pelo Parlamento Nacional e da Secretária Especial dos Direitos dos Animais de Porto Alegre, Sra. Regina Becker, que relatou a experiência de Porto Alegre.
Companheiros da defesa dos direitos dos animais convidados, representando nossas organizações, também compuseram a mesa e tiveram direito de expor suas ideias e avançar nas discussões.
Cobramos do deputado Stephanes Jr a realização de audiências públicas para que possamos discutir questões prementes e fundamentais no avanço da legislação que garanta a defesa dos direitos dos animais. O deputado assumiu este compromisso publicamente a ainda anunciou que defenderá a criação de uma Secretaria Estadual dos Direitos dos Animais. Assunto que temos que discutir !
Companheiras e companheiros representando o segmento dos direitos animais estavam ali, acompanhando as falas e preparando-se para as demandas futuras em nosso Município e em nosso Estado.
Presentes as seguintes organizações que pudemos reconhecer na plateia: Associação Vida Animal – AVAN, Associçãode Proteção aos Animais Arca de Noé – ANOE (Matinhos), Pense Bicho, SPAC, Movimento SOSBICHO, Viralatas – Controle e Proteção Animal, Ecoforça, Sociedade Vegetariana Brasileira – Seção Curitiba, IPAEC, Probem, Salva Bicho.
Assim, estaremos em constante diálogo com o Deputado Stepanhes Jr sempre em busca de interlocuções produtivas e democráticas, na busca do avanço nos direitos dos animais do Paraná.
Fica assim na boca, um gostinho de quero mais, para que possamos efetivamente participar destes debates, com protagonismos saídos de dentro do movimento de defesa dos direitos dos animais do Paraná, que tem muito a contribuir na construção das políticas.





Será que plantas carnívoras atacam pessoas? Saiba mais sobre elas


FERNANDO SILVA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não, as plantas carnívoras não comem o dedo de ninguém! O cardápio delas é basicamente composto por insetos. Raramente, algo maior, como um pássaro, pode ser "vítima".
"Elas chupam o caldinho do mosquito", disse Bruno Koszo, 5, ao se deparar com uma planta carnívora que a "Folhinha" levou ao parque Ibirapuera.
Os gêmeos Abelardo e Emanuel Fernandes, 11, fizeram perguntas. "Têm olhos? Como elas comem?" Abelardo surpreendeu-se quando a dioneia (uma das espécies) fechou-se e quase pegou seu dedo. "Tomei um susto", disse, rindo.
Gabo Morales/Folhapress
Os gêmeos Abelardo e Emanuel, 11, brincam com espécie de planta carnívora no parque do Ibirapuera
Os gêmeos Abelardo e Emanuel, 11, brincam com espécie de planta carnívora no parque do Ibirapuera
Achar esse tipo de planta em São Paulo não é fácil. Segundo a prefeitura, os parques não têm. O desconhecimento do cultivo pode explicar a ausência, diz José Mauricio Piliackas, 47, doutor em biologia e apaixonado pelo assunto desde a infância. Ele é dono de uma coleção com 280 exemplares em Monte Verde (MG), aberta ao público.
Quem também coleciona carnívoras é o servidor público Marcio Calazans, 41. Ele criou, no sobrado onde mora, em Osasco (SP), uma estufa com tela para dar sombra e sistema automático para regar as plantas. "Elas gostam de umidade e calor." Ele dá insetos, como o tenébrio (uma larva), para mudas em fase de crescimento.
No Ceagesp (grande mercado de São Paulo), há uma banca de carnívoras (que custam a partir de R$ 5), do engenheiro agrônomo Marcos Ono, 49. Ele conta que seus clientes têm as mais variadas idades. "Tem criança de cinco anos e criança barbuda de 50!"
Editoria de Arte/Folhapress
Fonte: Folha de São Paulo, 16 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética



Ánima-is
© Greif, Sergio
A experimentação animal tem sido debatida em todo mundo. Biólogos, médicos e outros cientistas têm se levantado para se pronunciar a seu favor ou contra ela. Seus prós e contras tem sido apresentados, às vezes por uma abordagem científica, às vezes por uma abordagem ética. Auto-denominados “comitês de ética” tem sido criados com o objetivo de prontamente resolver a questão, conciliando todas as partes e tornando a experimentação aceitável pelo ponto de vista ético. Mas de que forma o cidadão comum, alheio às atividades acadêmicas, pode tomar parte nessa discussão? Tem ele o direito de opinar, não tendo suficientes conhecimentos de biologia, fisiologia, bioquímica e disciplinas afins?

O debate sobre a experimentação animal, ao contrário do que defendem muitos cientistas vivisseccionistas, não deve ficar restrito aos círculos acadêmicos. Este é um problema que envolve toda a sociedade e é justo que toda a sociedade participe de sua discussão. O salário do cientista provém dos impostos pagos pela população, que também paga pelos laboratórios e materiais utilizados em todos os procedimentos. É natural que a população tenha o direito de opinar sobre qualquer coisa que se passe em uma universidade. É importante que a população tenha consciência de todo o processo e de tudo o que existe por traz do discurso cientificista que pretende delegar o debate a poucos iniciados. É importante, acima de tudo, que a população se posicione, não apenas porque não concorda com o que se faz com os animais em nome da ciência, mas também porque não concorda com essa forma de ciência reducionista, que não apenas transforma seres vivos em coisas, mas também equipara sistemas diferentes como se fossem sistemas semelhantes, permitindo a extrapolação de dados obtidos de um sistema para todos os demais.

Não é à toa que em hospitais públicos os médicos tratem seus pacientes como números e que seus nomes sejam substituídos pelos nomes das doenças que lhes são diagnosticadas. O modelo de ciência que criamos induz que as coisas sejam assim. O ensino médico, tal qual estruturado, induz o estudante a acreditar que os seres vivos são 'coisas' e não é difícil entender porque que os médicos continuam tratando seus pacientes como coisas depois de formados. O cão nº 10 dos tempos de faculdade, no qual foi inoculado determinado vírus, torna-se o paciente nº 10 do hospital, que aparece no pronto-socorro com determinada virose.

Este é apenas um pequeno exemplo do que representa o viés, o efeito negativo da utilização de animais para o ensino e para a pesquisa. Mas nem de perto esse é o maior problema relacionado à experimentação animal. Ainda na esfera da discussão científica, a experimentação pretende ser uma segurança que em verdade não é. Constitui-se em um risco querer garantir à população a segurança de produtos apenas porque os mesmos foram testados em sistemas tão diferentes de seu organismo. A utilização de experimentos em animais jamais foi validada seguindo critérios científicos, os mesmos critérios exigidos para validar os métodos substitutivos. Tendemos a considerar os animais miniaturas de nós mesmos, mas esta é uma consideração empírica e não encontra eco na ciência. Não é por mera conjectura matemática, “regrinha de três”, que conseguiremos transformar dados obtidos em ratos em dados aplicáveis a seres humanos. Em algum momento nessa cadeia de testes seres humanos terão de ser utilizados como cobaia, e é nesse momento que os dados serão, de fato, considerados válidos.

Embora a luta abolicionista tenha seus fundamentos na ética, ou seja, no direito dos animais em não serem explorados, a abolição da vivissecção deverá contar com uma argumentação mais embasada na ciência. É que sabemos que, num primeiro momento, o debate ético freqüentemente cairá na dicotomia “se eu posso comer frango, porque não posso testar em ratos?” ou “você preferia que usassem crianças em vez de cães?” É claro que essas perguntas merecem respostas tão simplórias quanto elas próprias. Seres humanos não deveriam poder comer frango, não devemos justificar um erro apontando para outro erro. E não, não estamos sugerindo que se use crianças ao invés de ratos, estamos sugerindo que se utilizem modelos corretos ao invés de modelos errados.

Uma discussão apenas pelo ponto de vista ético, se não estiver profundamente enraizado na teoria de direitos dos animais, poderá ainda derivar para distorções do tipo o conceito de que os 'animais de laboratório' recebem tratamento ético, visto que os procedimentos realizados com eles obedecem às leis de bem-estar animal e são devidamente aprovados por comitês de ética. Caberia aqui um questionamento sobre que leis são essas e no que se constituem os comitês de ética.

O Brasil possui leis bastante específicas no que se refere ao bem-estar de animais. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), por exemplo, estabelece multas para quem abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais (silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos) e é bastante específica em seu parágrafo único ao afirmar que “Incorre nas mesmas multas, quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.” Ou seja, essa lei, em uma leitura superficial, torna o uso prejudicial de animais na ciência e no ensino crime em todo o território nacional. Mas em verdade ela não o faz, porque condiciona a proibição à existência de recursos que até existem, mas não são conhecidos ou validados. Nenhum decreto estabelece quais recursos alternativos estão disponíveis e quais experimentos já não podem ser realizados. Cabe à boa vontade do cientista buscar alternativas e mesmo recusá-las se elas forem apresentadas por terceiros, porque ele pode simplesmente alegar que a alternativa não substitui a experiência que pretende conduzir. Ninguém melhor do que o cientista conhece os objetivos de seu experimento.

Também a Lei nº 6.638/79, que regulamenta a vivissecção de animais, proíbe a vivissecção em animais que não foram devidamente anestesiados, ou que os procedimentos ocorram em locais não apropriados, sem a supervisão de técnicos especializados ou em presença de menores de idade, entre outras coisas, mas não representa de fato um ganho à causa animal. Se basta anestesiar o animal para tornar o procedimento ético, quem poderá se opor à experimentação? E como comprovar que o animal de fato foi anestesiado se tudo é feito a portas fechadas? Deve-se confiar na palavra do cientista? E é mesmo relevante que nos contentemos em saber que os animais simplesmente estão sentindo menos dor, quando o problema central não é este? E a pergunta mais importante, talvez: se não há nada de errado com a experimentação animal, porque que ela não pode ser realizada na presença de menores de idade?

As leis no Brasil se dividem entre as 'que pegam' e as 'que não pegam'. As leis que pretendem impor comportamentos que de fato não condizem com o comportamento adotado pela população tendem a 'não pegar', por isso a idéia de que as campanhas para conscientização da população deveriam merecer mais atenção do que simplesmente a promulgação de leis. Leis apenas 'pegam' quando condizem com a vontade da maioria, ou de boa parcela da população.

No que diz respeito aos auto-proclamados “comitês de ética na experimentação animal”, cabe iniciar dizendo que eles não servem aos princípios a que se propõem. Seu próprio nome não faz sentido, porque inspira-se nos “comitês de ética para experimentação em seres humanos', onde os seres humanos utilizados são sempre voluntários saudáveis ou pacientes reais, devidamente informados sobre os possíveis riscos do tratamento a que serão submetidos. No caso dos animais, eles jamais são voluntários e certamente não são informados sobre os riscos. Simplesmente sua utilização ocorre à revelia de sua vontade e apenas por aí sabemos que não há ética em sua utilização. Poderia-se falar em ética na experimentação de seres humanos prisioneiros de campos de concentração?

Mas muitos 'protetores de animais' bem intencionados e sinceros em suas convicções acabam aceitando fazer parte desses 'comitês de ética' acreditando que poderão auxiliar os animais. Fazer parte não significa adquirir algum poder, mas sim compactuar. Suponhamos um “comitê de ética” típico, composto por 7 pessoas, entre membros da instituição, pessoas da área de biológicas, exatas, humanas, leigos da sociedade civil e um membro da 'proteção animal'. Ainda que esse membro ligado á proteção animal seja firme em seu propósito de impedir determinado procedimento, ele será apenas 1 entre 7 pessoas. Voto vencido. Isso se ele mesmo não acabar cedendo à argumentação, convencido da necessidade da experimentação em animais.

Os 'comitês de ética' trazem um agravante para os propósitos da causa animal: Quando determinado procedimento é questionado pela sociedade (ou por um grupo em particular) o aval do comitê de ética é freqüentemente utilizado a favor da pesquisa, contra os animais. Os cientistas têm, com o aval em mãos, uma ferramenta para argumentar que naquela instituição os procedimentos são rigorosamente fiscalizados e aprovados, inclusive por membros das sociedades protetoras de animais. “Quem melhor do que um protetor de animais para saber o que é bom para os animais?”

Esse argumento, que atribui autoridade sobre a vida alheia a certos membros de nossa sociedade, é simplesmente inaceitável. Apenas ser sensível ao sofrimento alheio não nos torna aptos a avaliar a medida desse sofrimento. Não nos torna capazes de avaliar os prós e contras e decidir sobre o que aceitável e o que não é. Podemos fazer isso com nossas próprias vidas (talvez), mas não podemos estabelecer quanto de dor é suportável por um cão, ou quantos ratos podem ser mortos para obtermos determinada droga. Isso nada tem a ver com ética. O prejudicado e o possível beneficiado não são o mesmo sujeito, de que forma 'colocar isso na balança'. Que metodologia é essa a que tanto se tem recorrido? Poderíamos, seguindo ela, avaliar que o sacrifício de 1.000 mendigos saudáveis valeria para descobrir a cura para o mal de milhares de pessoas que sofrem de determinada doença degenerativa?

E quem é o protetor de animais que está nesse comitê e que pode decidir pela vida de tantos animais? Quem o investiu do poder divino para decidir pelo que é melhor para a vida de outros que não a sua própria, pela vida ou pela morte, quais procedimentos são inaceitáveis e quais são éticos, quais espécies podem ser usadas, qual seu número etc? Essa é a forma como acreditamos estar ajudando os animais? Não, não devemos conceber nem apoiar comitês de ética. Pelo contrário, eles são atualmente o maior trunfo da vivissecção e precisam ser combatidos como prejudiciais para a causa dos direitos dos animais.
       
Mesmo a alegação de que fazer parte de um comitê permite ao protetor saber o que se passa dentro da instituição não faz sentido. Não é fazendo parte do problema que encontramos sua solução, além disso, qualquer pessoa da sociedade tem o direito de acessar o que se passa em laboratórios de pesquisa, e isso é especialmente verdade em instituições públicas. Mesmo onde não existem comitês de ética é possível acessar os projetos submetidos às agências de fomento à pesquisa.

Mas por que meios a vivissecção pode ser efetivamente combatida? É comum a idéia de que a abolição da exploração animal será um movimento que partirá da base para o ápice, do povo em direção aos governantes, e não o contrário. Não serão as leis que impedirão que animais sejam explorados. Tampouco os cientistas voluntariamente abdicarão do uso de animais, se fatores sociais e econômicos não os forçarem a buscar por isso. Apenas a vontade popular poderá provocar essa mudança. Cabe àqueles que já tem esse entendimento educar as pessoas no sentido de que percebam o problema em todos os seus aspectos. O povo, uma vez consciente de que a experimentação animal não resulta apenas na exploração de animais, mas também de prejuízos à saúde humana, tenderá a direcionar essa mudança, através da opção por produtos que não foram testados em animais e pelo boicote às empresas que perpetuam a exploração de animais. No caso do uso didático de animais, o caminho é mostrar para mais e mais estudantes que as aulas que empregam animais de forma prejudicial, além de se constituírem em práticas anti-éticas, não contribuem em nada com seu nível de aprendizagem. E quanto mais estudantes recusarem-se a participar de tais aulas, mais a instituição se verá forçada a buscar por outros métodos.
       
É interessante que a pessoa que defende a abolição da vivissecção conheça algo sobre os métodos substitutivos, também chamados métodos alternativos [1]. Esse conhecimento é especialmente útil para responder à pergunta “se não animais, vamos utilizar o que?” Alguns dos métodos substitutivos utilizados com maior freqüência incluem os testes in vitro (em tecidos, células animais, vegetais ou microorganismos), a utilização de vegetais (quando possível), as simulações computacionais, os estudos clínicos em pacientes reais, os estudos não invasivos em voluntários, os estudos epidemiológicos, as técnicas fisico-quimicas, (espectrometria de massa, cromatografia, tomografia, etc), o estudo em cadáveres, a utilização de manequins especialmente criados para determinados procedimentos, de softwares educacionais, de filmes, de modelos matemáticos, a nanotecnologia, estudo observacional de animais, entre outras. Cada fim pretendido demanda a adoção de uma ou mais técnicas, e dentro destas técnicas há inúmeras possibilidades e variações.

Assim, por exemplo, um determinado teste toxicológico que demandaria vários animais pode, com sucesso, ser substituído por uma bateria de testes em células de diferentes linhagens e seguindo diferentes metodologias. É claro que a escolha destes testes não é aleatória e tem relação com os objetivos pretendidos. Técnicas físico-químicas podem ser aplicadas para identificar os diferentes componentes da droga e desta forma refinar os testes. Modelos computacionais e matemáticos, bem como placentas obtidas junto a maternidades podem auxiliar a compreender, por exemplo, de que forma a droga se distribuirá pelo organismo e como será sua absorção.
       
Esse conhecimento sobre métodos substitutivos não é, porém, imprescindível nem determinante de sucesso em uma campanha. Ele apenas contribui bastante com o desenvolvimento das discussões no âmbito científico. Os ativistas não são obrigados a ter, na ponta da língua e de pronto, quais recursos substitutivos podem se aplicar a cada caso de pesquisa proposta pela academia, porque isso seria humanamente impossível. Cada pesquisador é pago para realizar sua pesquisa de acordo com as demandas da sociedade. Foi ele que estudou e se capacitou nesse sentido e é dele o interesse em obter resultados destes experimentos. O pesquisador, acima de tudo, é que tem que se familiarizar com os recursos substitutivos, e não esperar que anti-vivisseccionistas os apresentem.

Um único departamento de uma boa faculdade desenvolve dezenas de projetos simultaneamente. Esse departamento é apenas um entre os vários da faculdade e essa faculdade é apenas uma dentro da universidade. Portanto, a gama de experimentos que ocorrem simultaneamente dentro de uma boa universidade é enorme e multiplique-se isso pelo número de universidades para termos uma idéia de que uma única pessoa ou instituição não poderia deter o conhecimento sobre todos os possíveis experimentos que poderiam ser realizados em animais para buscar por pelo menos um método substitutivo para cada um deles. O papel do anti-vivisseccionista é simplesmente o de exigir que esses métodos sejam implementados e jamais apoiar, de forma nenhuma, pesquisa com animais. Questionar sempre. Eventualmente, se dispuser de informações sobre recursos substitutivos essas poderão ser disponibilizadas para os cientistas, mas isto é uma contribuição e não uma obrigação que deve recair sobre o anti-vivisseccionista.

Além disso, devido à especificidade de cada linha de pesquisa, é possível que muitos métodos alternativos ainda precisem ser produzidos. Não porque sua técnica seja muito elaborada, mas porque possivelmente ninguém ainda tenha se preocupado em desenvolvê-los, visto que a metodologia somente interessa a quem dela faça uso.

O importante é que a graduação e especialização do cientista não devem intimidar o debatedor. É claro que o cientista melhor do que ninguém conhece sua linha de pesquisa, mas isso não desqualifica uma pessoa que queira debater a necessidade de utilização de animais. É questionável, inclusive, se a pesquisa é necessária caso o cientista seja incapaz de apresentar uma metodologia de pesquisa alternativa ao uso de animais. A sociedade não apenaspode se envolver nesse debate, ela deve, porque nele estão embutidos não apenas questões éticas, mas também questões relacionadas à saúde geral da população.


Nota:
[1 ] Cabe aqui discutir o emprego da palavra “alternativa”. Ainda que a utilizemos com grande freqüência, devido à sua consagração, convém deixar claro que esta palavra não é a mais adequada para designar os recursos e métodos substitutivos. A palavra “alternativas” desperta certa confusão entre as pessoas, levando muitos a crerem que se trate de “alternar” métodos substitutivos com experimentos realizados em animais. Além do mais, quando aceitamos que as técnicas que propomos são “alternativas”, estamos implicitamente aceitando que as técnicas que utilizam animais conduzem a bons resultados, o que não é o caso.


http://www.anima.org.ar/libertacao/animais/a-questao-utilizacao-animais-comites.html

terça-feira, 5 de março de 2013

VÍTIMAS DA DISCRIMINAÇÃO


GUARDA MUNICIPAL DE PROTEÇÃO ANIMAL DE CURITIBA


Poluição do solo por nitrogênio é a nova crise ambiental chinesa?



Nutriente que serviu de pilar da "Revolução Verde" na agricultura está se tranformando em um vilão ambiental. Estudo indica que a poluição do solo por nitrogênio cresceu 60% em 30 anos

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Vanessa Barbosa
Exame.com - 21/02/2013

Em meio à poluição atmosférica recorde que assola a China, o país enfrenta outra crise ambiental pouco conhecida e praticamente invisível: a contaminação do solo por nitrogênio. Segundo um estudo publicado pela revista Nature, a poluição por nitrogênio aumentou 60% em 30 anos no país, o que representa uma ameaça para os ecossistemas e a saúde humana.

Dentre as diversas formas de nitrogênio presentes no meio ambiente, a principal preocupação dos pesquisadores é com a amônia (NH3) e o nitrato (NO3).

O acúmulo dessas substâncias na natureza deriva principalmente do uso indiscriminado de fertilizantes sintéticos, além das emissões causadas pelo transporte e indústria.

Em alta concentração, esses poluentes podem levar à perda da biodiversidade, reduzir o crescimento das plantas, poluir o lençol freático e acidificar o solo.

Desde 1990, a China tornou-se o maior consumidor de fertilizantes nitrogenados do mundo que, apesar de ajudarem no crescimento rápido do cultivo, aumentando a oferta de alimentos, também poluem e deterioram o solo quando usados de forma indiscriminada.

A pesquisa aponta que a deposição de nitrogênio no solo do país subiu anualmente 8 kg por cada 10 mil m² de terra entre 1980 e 2010. Grosso modo, o nutriente que serviu de pilar da "Revolução Verde" na agricultura, está se tranformando em um verdadeiro vilão ambiental.

TRANSPORTE E INDÚSTRIA
Outra constatação do estudo é que as emissões de óxido de nitrogênio provenientes dos transportes e da indústria estão aumentando mais rápido do que as emissões de amoníaco da agricultura.

Desde os anos 1980, o uso de fertilizantes nitrogenados dobrou, ao passo que consumo de carvão aumentou mais de três vezes e o número de veículos a motor, mais de 20 vezes.
"Se as tendências atuais persistirem, as emissões de amônia vão aumentar 85% até 2050 e as emissões de óxido de nitrogênio vão subir mais de oito vezes. O impacto será impensável", diz Fusuo Zhang, pesquisador da China Agricultural University, em Pequim, e co-autor do estudo.
Mundialmente a cada ano, cerca de 140 milhões de toneladas de nitrogênio são despejadas no meio ambiente. Segundo previsões do cientista, esse número deverá aumentar em 70% até 2050, quando as economias emergentes da América Latina e do Sul da Ásia começarão a padecer do mesmo mal que a China enfrenta hoje.

AMEAÇA SILENCIOSA
O maior empecilho para combater este problema crescente é o fato de se tratar de umapoluição silenciosa e invisível. Diferentemente da fuligem escura gerada pelo transporte e indústria ou ainda, de um vazamento de petróleo, que deixa sua marca no local, a poluição por nitrogênio é praticamente imperceptível aos olhos - ainda inda que tenha o poder de desestabilizar os processos naturais, entre outros efeitos negativos ainda em estudo.

Por esse motivo, a poluição por nitrogênio acaba sendo pouco reconhecida como um problema ambiental, dizem os cientistas, já que é difícil conectar o problema à fonte.

Um passo simples no sentido de reduzir a poluição por nitrogênio seria os agricultores começarem a usar de forma mais eficiente os fertilizantes sintéticos, já que estes são reconhecidos mundialmente como a principal fonte do problema.
Foto: Totomaru / Creative Commons

www.planetasustentável.abril.com.b
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segunda-feira, 4 de março de 2013

Boneca, uma estória de amor de Chico Xavier

Chico Xavier tinha uma cachorra de nome Boneca, que sempre es perava por ele, fazendo 

grande festa ao avistá-lo.

Pulava em seu colo, lambia-lhe o rosto como se o beijasse.

O Chico então dizia: – Ah Boneca, estou com muitas pulgas!

Imediatamente ela começava a coçar o peito dele com o focinho.


Boneca morreu velha e doente. Chico sentiu muito a sua partida. Envolveu-a no mais belo 


xale que ganhara e enterrou-a no fundo do quintal, não sem antes derramar muitas lágrimas.

Um casal de amigos, que a tudo assistiu, na primeira visita de Chico a São Paulo, ofertou-lhe


 uma cachorrinha idêntica à sua saudosa Boneca.

A filhotinha, muito nova ainda, estava envolta num cobertor e os presentes a pegavam no 


colo, sem contudo desalinhá-la de sua manta.

A cachorrinha recebia afagos de cada um. A conversa corria quando Chico entrou na sala e 


alguém colocou em seus braços a pequena cachorra.



Ela, sentindo-se no colo de Chico, começou a se agitar e a lambê-lo.


- Ah Boneca, estou cheio de pulgas! disse Chico.


A filhotinha começou então a caçar-lhe as pulgas e parte dos presentes, que conheceram a


 Boneca, exclamaram: “Chico, a Boneca está aqui, é a Boneca, Chico!”

Emocionados perguntamos como isso poderia acontecer. O Chico respondeu:


- Quando nós amamos o nosso animal e dedicamos a ele sentimentos sinceros, ao partir, os


 espíritos amigos o trazem de volta para que não sintamos sua falta.

É, Boneca está aqui, sim e ela está ensinando a esta filhota os hábitos que me eram 


agradáveis.

Nós seres humanos, estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma


 proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Por isso, quem maltrata um animal é

 alguém que ainda não aprendeu a amar.


Adelino da Silveira

FEMINISMO E ABOLICIONISMO ANIMAL



Tamara Bauab Levai,  13 de Julho de 2007
A sociedade atual ainda prioriza o homem branco ocidental em detrimento de todo o resto da criação. Comportamentos considerados culturais, não devem ser confundidos com comportamento natural, não é natural que seres humanos dotados de consciência e racionalidade, do século XXI ainda possam se divertir com acontecimentos como um rodeio ou uma tourada, seres que pregam a paz e dizem lutar por ela ainda toleram violência contra a mulher achando que este tipo de coisa é natural, não é.
O movimento de libertação visa por fim ao preconceito e a discriminação baseados em características arbitrárias, como a raça, o sexo ou a espécie, talvez o especismo seja nossa última fronteira ética, isso requer uma expansão dos nossos horizontes morais.
Negros e mulheres já foram considerados seres inferiores, desprovidos de alma ou inteligência. Querer igualdade moral para os animais parece tão absurdo quanto achavam absurdo a igualdade feminina.
Os sexistas violam o princípio da igualdade, ao favoreceram os interesses do próprio sexo. Os especistas ao levarem em conta os interesses de sua própria espécie em detrimento dos interesses de membros de outras espécies .
No começo da “ocupação” humana sobre a Terra, ainda não se reconhecia o envolvimento do homem na geração de novos seres. O surgimento da vida era atribuído ao corpo feminino, e por este motivo desenvolveram uma divindade feminina, a vida era ocasional, uma benção da deusa mãe. Eram tempos matriarcais.
O homem se esforça para estar ao lado da mulher desenvolvendo amor pelos filhos. Nosso sucesso como espécie deveu-se á divisão do trabalho entre machos e fêmeas, os machos se especializaram na função de provedores de alimento, as fêmeas ocupavam o centro da vida social, preparando o alimento, criando os filhos e organizando a tribo, as mulheres aprenderam a lidar com vários problemas ao mesmo tempo. Havia um equilíbrio entre homens e mulheres, eram diferentes mas iguais.
As comunidades humanas se fixam cada vez mais, surgem disputas dos grupos por territórios, isso eleva a categoria dos homens a guerreiros pois a vida da mulher como geradora de vida nova era muito valiosa e merecia ser defendida.
Lentamente um ressentimento masculino vai germinando neste estado primitivo, que queria ter o poder de criação para si e ocupar o lugar central da sociedade, surge o masculino opondo-se a tudo o que era feminino. Lentamente a revolução patriarcal vai se organizando.
O homem toma para si o poder da criação, os cultos ao deus fálico crescem, o homem passa a ter maior importância no surgimento da vida.
Os homens tornaram-se importantes com a guerra, organizam as coisas para “manter a ordem”, se sente forte, glorioso, com desejos de grandeza, esposo da deusa, um deuso, um deus…para isso tem que assassinar a deusa, tomar-lhe o poder, tomando a terra, desprezando a terra, dizendo que o importante é a semente, assim como o corpo da mulher seria inerte sem a semente masculina.
Tomam o poder de controlar a vida. A deusa gera e o homem toma para si, surge o paternalismo, surge a propriedade, a terra propriedade, a mulher propriedade, os filhos propriedades, os animais propriedade.
A deusa é caluniada, seu culto é chamado de paganismo indecente, o deus é gerado numa mãe virgem inviolada e sofredora, de um pai austero que premia com seu amor quem se deixa domesticar e submeter-se a ele, um pai punidor, racional, controlador.
Um deus homem, um lar patriarcal, um regime de violência, dominação.
Disso decorrem o patriarcado – a falácia do poder – o imperialismo, o militarismo, o capitalismo, o industrialismo, o consumismo, o racismo, o sexismo e o especismo. Dominação andro-antropocêntrica, exploradora e antiecológica.
O modo como toleramos a violência e crueldade contra os animais não humanos, nos mostra como toleramos também a violência contra as mulheres, os negros, os pobres, os idosos.
Assim com as feministas, os defensores dos direitos dos animais, são ridicularizados, suas aspirações consideradas irrelevantes, são acusados de: radicais, extremistas, chamados de histéricos, emotivos, neuróticos, anti-sociais.
Opor-se a exploração animal é um ato de amor próprio, de escolha, de liberdade de dizer não, de não ser massificado pelo sistema.
Podemos escolher ter uma vida não brutalizada, não violenta.
Bibliografia: Singer, Peter: Vida Ética 2002 / Morris, Desmond: A mulher nua 2005
*Tamara Bauab Levai – Bacharel em Comunicação Social pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, mestre em Ciências Biológicas – laboratório de Síntese Orgânica IP&D – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento – UNIVAP, especialista em Biologia Celular e Histologia Geral – Departamento de Morfologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, autora do livro “Vítimas da Ciência – Limites éticos da experimentação animal” (80 p.). Julho de 2007