terça-feira, 5 de março de 2013

Poluição do solo por nitrogênio é a nova crise ambiental chinesa?



Nutriente que serviu de pilar da "Revolução Verde" na agricultura está se tranformando em um vilão ambiental. Estudo indica que a poluição do solo por nitrogênio cresceu 60% em 30 anos

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Vanessa Barbosa
Exame.com - 21/02/2013

Em meio à poluição atmosférica recorde que assola a China, o país enfrenta outra crise ambiental pouco conhecida e praticamente invisível: a contaminação do solo por nitrogênio. Segundo um estudo publicado pela revista Nature, a poluição por nitrogênio aumentou 60% em 30 anos no país, o que representa uma ameaça para os ecossistemas e a saúde humana.

Dentre as diversas formas de nitrogênio presentes no meio ambiente, a principal preocupação dos pesquisadores é com a amônia (NH3) e o nitrato (NO3).

O acúmulo dessas substâncias na natureza deriva principalmente do uso indiscriminado de fertilizantes sintéticos, além das emissões causadas pelo transporte e indústria.

Em alta concentração, esses poluentes podem levar à perda da biodiversidade, reduzir o crescimento das plantas, poluir o lençol freático e acidificar o solo.

Desde 1990, a China tornou-se o maior consumidor de fertilizantes nitrogenados do mundo que, apesar de ajudarem no crescimento rápido do cultivo, aumentando a oferta de alimentos, também poluem e deterioram o solo quando usados de forma indiscriminada.

A pesquisa aponta que a deposição de nitrogênio no solo do país subiu anualmente 8 kg por cada 10 mil m² de terra entre 1980 e 2010. Grosso modo, o nutriente que serviu de pilar da "Revolução Verde" na agricultura, está se tranformando em um verdadeiro vilão ambiental.

TRANSPORTE E INDÚSTRIA
Outra constatação do estudo é que as emissões de óxido de nitrogênio provenientes dos transportes e da indústria estão aumentando mais rápido do que as emissões de amoníaco da agricultura.

Desde os anos 1980, o uso de fertilizantes nitrogenados dobrou, ao passo que consumo de carvão aumentou mais de três vezes e o número de veículos a motor, mais de 20 vezes.
"Se as tendências atuais persistirem, as emissões de amônia vão aumentar 85% até 2050 e as emissões de óxido de nitrogênio vão subir mais de oito vezes. O impacto será impensável", diz Fusuo Zhang, pesquisador da China Agricultural University, em Pequim, e co-autor do estudo.
Mundialmente a cada ano, cerca de 140 milhões de toneladas de nitrogênio são despejadas no meio ambiente. Segundo previsões do cientista, esse número deverá aumentar em 70% até 2050, quando as economias emergentes da América Latina e do Sul da Ásia começarão a padecer do mesmo mal que a China enfrenta hoje.

AMEAÇA SILENCIOSA
O maior empecilho para combater este problema crescente é o fato de se tratar de umapoluição silenciosa e invisível. Diferentemente da fuligem escura gerada pelo transporte e indústria ou ainda, de um vazamento de petróleo, que deixa sua marca no local, a poluição por nitrogênio é praticamente imperceptível aos olhos - ainda inda que tenha o poder de desestabilizar os processos naturais, entre outros efeitos negativos ainda em estudo.

Por esse motivo, a poluição por nitrogênio acaba sendo pouco reconhecida como um problema ambiental, dizem os cientistas, já que é difícil conectar o problema à fonte.

Um passo simples no sentido de reduzir a poluição por nitrogênio seria os agricultores começarem a usar de forma mais eficiente os fertilizantes sintéticos, já que estes são reconhecidos mundialmente como a principal fonte do problema.
Foto: Totomaru / Creative Commons

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