segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Orelhas: o coelho que não era de chocolate


                                         


                                                    Texto de Laelia Tonhozi

Um dia minha mãe decidiu comprar um coelho pra gente.  Dizia que e as melhores lembranças da infância dela eram com seu coelho. E queria isto pra gente também. E todo mundo sabe que mãe é mãe !
No começo foi até legal: Orelhas na gaiolinha, a gente dava cenourinhas para ele comer, limpava o cocô, era até divertido.
Com o tempo o coelho cresceu e começou a ficar muito triste na gaiola. Deprimido, segundo a opinião de algumas pessoas. Alguns amigos opinaram também que um coelho, que é um animal silvestre, não nasceu para viver numa gaiola.
Outros amigos da minha mãe tentaram falar para ela que não era muito adequado ter um bichinho deste em casa. Mas que nada ! Ficou tudo quase igual !
Quer dizer: mudou um pouco, pois decidimos soltar o Orelhas no quintal, ou melhor, no jardim, pois não tínhamos quintal.
As coisa melhoraram um pouco para o Orelhas. Já o jardim...não sobrou nada ! E pior, o coelho ainda ficou doente, pois foi domesticado e foi perdendo uma habilidade natural dos animais: o de saber escolher o que comer e acabou comendo uma planta venenosa. Salvou-se.
Ocorrência seguinte: noite após noite, ouvimos um roc-roc e não conseguíamos descobrir de onde vinha aquilo.
Tchan-tchan-tchan-tchan! Surpresa !
Após uma semaninha, meu pai viu o Orelhas saindo por debaixo do carro. Resolveu olhar por baixo do carro. Não é que “o orelhudo”, “o dentuço”, “o maldito coelho”, tinha comido todo o fundo do carro ?
Aí foi o caos.
O pobre Orelhas voltou pra gaiola e começou a próxima etapa da novela do coelho que não era de chocolate.
O que fazer com o Orelhas ?
Soltar no mato ? Seria ele capaz de encontrar, por si só, alimento, abrigo, amigos de sua espécie ? Seria ele capaz de se defender de um animal maior do que ele ou de alguém malvado ? Afinal, já tinha nascido em criadouro.
Devolver para a loja ? Nem pensar ! O dono do pet shop não quis nem falar do assunto. ” Coelho adulto não dá pra vender”, disse ele.
Final da estória: uns amigos da minha mãe tinham uma chácara, com outros coelhos soltos em um local protegido e aceitaram ficar com o Orelhas.
Não foi a solução ideal. Mas foi a solução encontrada diante de um erro, que começou com a compra de um animal silvestre como animal de estimação. Animais silvestres necessitam de liberdade e de conviverem com outros de sua espécie ! E se ninguém comprar a gente acaba com o seu comércio e sua criação. Pois comprando, alimentamos o comércio !
Cães e gatos foram domesticados há milhares de anos (entre 5 e 10 mil anos !!!) e são animais mais adequadas para termos como companhia.
Assim, o Orelhas nos ensinou esta grande lição!
Claro que nem meu pai (o conserto do carro ficou bem caro !), nem o Orelhas,  precisavam passar por isto.

Ah ! Soubemos depois que ele foi papai de muitos coelhinhos.

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