Em 2012, o empresário Carlos Eduardo Andersen, de 39 anos, ficou amarrado junto à paineira rosa por 16 horas, para salvá-la do corte.
ESPECIALGuardiões das árvores
Certamente você deve se lembrar do nome dos seus amigos, da marca do carro que passou pela avenida há poucos minutos, do tipo de sapato que está usando. Porém, é muito mais difícil saber de pronto o nome daquela árvore da esquina ou da frente da sua casa. Elas podem até passar despercebidas durante a rotina acelerada da semana, mas fica impossível imaginar uma bela paisagem urbana sem elas.
Embora alguns se preocupem somente com a sujeira que as folhas e flores fazem no quintal, outros estão empenhados em mostrar a importância da preservação de cada uma dentro da cidade. O empresário Carlos Eduardo Andersen, de 39 anos, ficou indignado quando soube que a velha paineira rosa seria cortada por reclamações da vizinhança. A exuberante árvore localizada na Rua João Havro, no bairro Boa Vista, viu muito casal apaixonado se encontrar debaixo de sua copa, vem abrigando passarinhos nos fins de tarde de verão e sempre encheu os olhos dos moradores mais velhos.
Como tombar uma árvore?
Para que certas árvores não sejam derrubadas, elas podem ser tombadas pelo governo estadual ou municipal. A avaliação é feita por um grupo de biólogos e agrônomos do governo, que decidem ou não pelo tombamento, conforme a localização, beleza, porte, raridade, espécie e história da árvore. Alguns dos 27 exemplares sob a guarda da prefeitura e nove do estado são nativos da região, outros vieram com os primeiros imigrantes do estado. Qualquer pessoa pode entrar com o processo de tombamento de uma árvore, que é feito na Secretaria Municipal do Meio Ambiente ou pela Curadoria do Patrimônio Natural da Secretaria de Estado da Cultura.
Mais informações pelo telefone (41) 3312-0401 (Coordenação do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná).
A quantidade de histórias da paineira rosa, uma das mais antigas moradoras do bairro, levou o empresário a lutar por sua sobrevivência. Andersen entrou com uma ação na Justiça em 2012 e alegou que não havia motivo para a retirada da planta. “Para evitar que a prefeitura começasse o corte antes da avaliação do caso pelo juiz, eu me amarrei junto à árvore por 16 horas. As pessoas começaram a apoiar a minha iniciativa, incentivavam, levavam lanche...”, recorda.
Depois de salvar a histórica paineira, Andersen soube de casos semelhantes envolvendo moradores de diversos lugares da cidade. “Ouvi muitos relatos e resolvi juntar todos num blog. Começamos a divulgar as ações da prefeitura e os casos das árvores para tentar quebrar esse ciclo negativo”, conta. Sua causa ganhou adeptos e atualmente dez voluntários participam do movimento Vândalo Verde. “Nós fizemos várias ações: distribuímos cartazes, saímos em grupos tocando músicas para denunciar cortes irregulares, fizemos resgate de mudas de árvores de grande porte e replantamos em lugares em que elas possam ter mais espaço”, resume o ativista.
Um bosque dentro do bar
Preocupado em harmonizar a cidade com a natureza, o proprietário do The Patch Art & Bar (Rua Prof. Brandão, 51 - Alto da XV), Ivo Durante, de 28 anos, resolveu criar uma espécie de pomar nos fundos do espaço cultural. “Há mais ou menos duas semanas eu e mais alguns voluntários, frequentadores do bar, estamos plantando árvores que dão laranja, limão galego, pêssego, mexerica, maracujá e jabuticaba”, revela. Segundo ele, a ideia é montar um espaço em que os visitantes possam ter mais contato com a natureza, com horta de temperos e um pequeno jardim florido. As mudas foram conseguidas com doações de amigos. O bar, administrado por Durante e seus dois irmãos, concentra diversas expressões artísticas, como música, artes plásticas e fotografia.
Jasmim do Imperador
Foi em 1961, escondida na bagagem do empreiteiro Massyuqi Watanabe, que a muda do Jasmim do Imperador, ou Flor de Ouro, veio do Japão para o Brasil, de navio. Ele e a esposa, Massao Watanabe, chegaram a tomar menos água durante a viagem para regar a planta. Ao chegar no Brasil, cujo clima é completamente diferente ao do Japão, Watanabe deu o pequeno Jasmim do Imperador para seu filho Seizo Watanabe, hoje com 89 anos, plantar em casa, na Rua Ana Berta Roskamp, no Jardim das Américas – por receio de que a planta não crescesse no solo quente de Londrina.
A relação com a árvore é afetiva: o Jasmim do Imperador é um símbolo da terra natal da família – a província japonesa de Mianyang. E remete também à época em que os Watanabe sofreram com o tsunami em 1933, que arrasou construções e destruiu cidades inteiras. Além de bela, ela exala um perfume adocicado na floração. Massyuqi Watanabe adorava esse cheiro de tal maneira que resolveu trazer o vegetal para o Brasil.
Os anos se passaram, a família foi crescendo e a árvore também. Massyuqi Watanabe envelheceu, assim como sua esposa, mas o Jasmim do Imperador não florescia. “Meus pais esperavam ansiosos pelo dia em que a árvore florescesse e ele pudesse sentir o cheiro de sua terra. Eles esperaram tanto que os vizinhos e alguns da família diziam que meu pai foi enganado pelo comerciante que vendeu a muda para ele”, contou Seizo Watanabe.
Finalmente, depois de longos anos de espera, a robusta árvore floresceu em agosto de 1975. Mas suas flores chegaram tarde demais: Massyuqi e Massao faleceram alguns meses antes. “Quando a árvore floresceu, a família dizia que foi graças à mamãe”, lembrou Seizo. E o perfume não lhe sai da cabeça: “O cheiro lembra manga, o aroma doce da maçã”, descreve.
Eram tantas flores que o quintal da família ficava forrado. Os moradores da região, quando passavam próximo à casa dos Watanabe, tentavam descobrir de onde vinha aquele aroma. “Muitas pessoas passavam e pediam uma muda da planta, e eu entregava”, lembra. Mas, infelizmente, a árvore não agradava a todos. “O vizinho da casa ao lado reclamou na prefeitura, dizendo que as raízes da árvore estavam prejudicando a estrutura da casa deles. A prefeitura veio até aqui, viu que a árvore estava doente e a cortou”, lamenta. Mesmo assim, Seizo Watanabe se consola por ter distribuído mudas da árvore para amigos e familiares: “Assim a árvore do meu pai vive um pouco em vários lugares do Paraná”.
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