quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Extinção de onças pode ocorrer em 80 anos, diz estudo

Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Christian Rizzi/Gazeta do Povo / Rareando: onça-pintada precisa de vastas áreas bem conservadas para encontrar caçaRareando: onça-pintada precisa de vastas áreas bem conservadas para encontrar caça

No Parque Nacional do Iguaçu, não existiriam mais que 18 exemplares. Presa preferida do animal não é avistada há 16 anos

Crime
Caça é a principal ameaça aos animais do Parque Nacional do Iguaçu
O tenente Nilson Figueiredo Alves Junior, subcomandante da Polícia Ambiental em Foz do Iguaçu, não tem dúvidas de que a caça é a principal ameaça à fauna no Parque Nacional do Iguaçu. “Encontramos até tucano abatido. Tudo que se movimente está sujeito a ser morto por pessoas que não necessariamente fazem isso para comer”, diz. Para o policial, apesar do perfil do caçador não ser exatamente claro, é possível afirmar que não se trata de uma questão de subsistência. “É quase um esporte. São pessoas com bom nível cultural, que sabem que é ilegal, proibido e que correm riscos”, afirma.
Só nos primeiros meses de 2013 já foram apreendidas 17 armas com caçadores na região e localizados 50 acampamentos. Como encontra dificuldade de pegar os caçadores em flagrante, a polícia ambiental tem usado a estratégia de investigar e pedir à Justiça mandados de busca e apreensão. “Estamos esperando resposta de mais de 20 pedidos”, conta.
Os policiais usam nove bases para pouso de helicóptero e monitoram 200 picadas abertas na mata. “Mas tem caçador que chega a vir aqui do lado do quartel”, diz. O tenente reconhece que não é possível dizer se as caçadas aumentaram ou diminuiriam em função dos registros oficiais. Além de muitos casos que não são eventualmente detectados, o aperto na fiscalização, por exemplo, pode inflar os dados. Por ano, cerca de 700 casos de ameaça à fauna são registrados no Paraná.
Só a pele
Em julho de 2013, duas peles de onça foram apreendidas na Região Oeste do Paraná. Cinco homens foram presos e assumiram que haviam caçado uma onça-parda nas imediações do Parque Nacional do Iguaçu. Já a pele de onça-pintada teria sido presente de amigos e vindo do Mato Grosso. A Estrada do Colono, via que existiu no meio do parque e cuja reabertura está sendo discutida, acabaria fornecendo acesso facilitado para os caçadores.
Atropelada
Em 2009, uma onça-pintada foi atropelada na rodovia que passa dentro do Parque do Iguaçu. Era um macho jovem de 70 quilos. O caso chegou a ser investigado pela polícia porque aconteceu de madrugada, quando o acesso é restrito. O motorista arrastou o animal para a margem e fugiu, sem comunicar o fato. Nada foi descoberto. Há registro de uma onça abatida por caçadores, no lado argentino do parque, em 2012.
Pânico
Sem presas fáceis no meio da mata, como os queixadas, as onças-pintadas procuram comida nas fazendas que ficam nas imediações do Parque Nacional do Iguaçu. A situação gerou pânico no ano passado, quando uma mulher morreu na cidade de São Jorge do Oeste. Fazendeiros também ficaram revoltados com a morte de bezerros, supostamente pelos felinos. O conjunto da situação levou à uma nova caçada às onças.
650 animais seria a quantidade mínima de onças-pintadas para, pela estimativa de biólogos, assegurar a continuidade da espécie. No Parque Nacional do Iguaçu, a estimativa de biólogos é que existam 18 exemplares apenas. Os mais pessimistas acreditam que são somente seis.
Denuncie:
Se souber de pessoas que caçam no parque ou tenham carne de animais estocadas, ligue para (45) 3529 9045.

A natureza está em flagrante desequilíbrio no ainda exuberante Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste do Paraná. A presa preferida da onça-pintada, um tipo de porco chamado de queixada, não é avistada desde 1997 no lado brasileiro do parque. Na década de 90, pesquisadores estimavam a presença de 150 a 180 onças-pintadas nos 1,8 mil quilômetros quadrados da unidade de conservação. Hoje, não existiriam mais do que 18. Os biólogos mais pessimistas falam em seis. No ritmo em que a população do maior felino das Américas vem diminuindo, a perspectiva é de que a espécie esteja extinta em 80 anos, de acordo com projeção feita em 2010 pelo projeto Carnívoros. “Do jeito que vai indo, as próximas gerações não mais conhecerão esse animal maravilhoso”, lamenta a bióloga francesa Anne-Sophie Bertrand, que pesquisa a fauna do parque desde 2006.
A ausência de onças-pintadas entre as milhares de fotografias feitas por câmeras com sensores de calor e movimento instaladas em meio à mata é mais um indicativo claro de que os felinos estão sumindo. “Tenho mais imagens em que aparecem pessoas no meio da vegetação”, conta Anne-Sophie. A bióloga comenta que tem percebido uma crescente simplificação da composição animal no parque. Como a natureza é baseada no equilíbrio, a falta de alguma espécie é capaz de desestabilizar o sistema ecológico. “O queixada é um herbívoro importante dispersor e predador de sementes. Como anda longas distâncias, tinha a função de levar espécies para outros lugares”, afirma.
Argentina
O lado argentino do parque ainda tem queixadas. A expectativa de que os animais atravessassem o rio e voltassem a ocupar a porção brasileira ainda não se confirmou. Não se sabe com precisão qual é a quantidade e a diversidade de espécies animais que habitam o parque. As informações até agora confirmadas apontam a existência de 76 espécies de mamíferos. No lado argentino, com características florestais e climáticas originalmente bem semelhantes, já foram encontradas 118 espécies.
Por causa da extensão, o Parque Nacional do Iguaçu está entre as poucas áreas de Mata Atlântica do Brasil capazes de comportar esses animais. O local é o último habitat natural da espécie no Sul do país. Os pontos mais próximos com registro de onças são o litoral de São Paulo e do Rio e o Pantanal. A presença de onças-pintadas é sinal de saúde ambiental. No topo da cadeia alimentar, é um animal que precisa de áreas bem conservadas para encontrar caça. De nada adianta um grupo pequeno que não seja capaz de se reproduzir com o mínimo de variabilidade genética para manter a espécie.
Interferência humana também causa desequilíbrio na espécie
Tanto as onças-pintadas como os queixadas são vítimas da redução de áreas naturais e da interferência humana. Sem comida, as onças tendem a deixar a reserva e atacar animais domésticos e de criação. “Infelizmente, não temos dados históricos nem pesquisas complexas que mostrariam como os animais estão reagindo às pressões e mudança do habitat”, diz a bióloga Anne-Sophie Bertrand. Além da caça, a captura de animais para venda também é uma ameaça para a fauna.
Apenas uma onça-pintada estaria sendo monitorada no parque atualmente. Com o nome de Naipi, uma fêmea de pouco mais de dois anos mora nas redondezas da área de visitação. Recentemente, um vídeo em que ela aparecia passeando pelas imediações do hotel existente dentro do parque circulou na internet.
Um macho chamado de Sancho também ostentava uma coleira que permitia aos pesquisadores saber onde ele estava, mas o sinal deixou de ser captado em outubro do ano passado. O aparelho pode ter estragado ou o animal foi morto
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Fonte: www.gazetadopovo.com.br
em 04.09.2013

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