sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ativistas cobram políticas públicas para os animais em Curitiba

Uma reportagem de Maigue Gueths para a Folha de Londrina
 ONGS de defesa dos animais e ativistas independentes de Curitiba iniciaram mais uma mobilização com objetivo de cobrar da Prefeitura de Curitiba a implantação de políticas públicas efetivas para a proteção e defesa dos animais do município. O movimento reivindica uma série de ações, cujo objetivo central é reduzir o número de animais abandonados nas ruas da cidade, vítimas de maus tratos, doenças e atropelamentos, e tem como instrumento um abaixo-assinado, com coleta de assinaturas nas ruas da cidade e pela internet, o qual será entregue a prefeitura.
No cerne das reivindicações, está um ponto de divergência entre ONGs e o Executivo Municipal. O principal pleito do movimento é a implementação de um programa permanente, massivo e gratuito de castração de animais. Os protetores afirmam que trata-se de uma ação essencial para controle dos animais e também para educação da população. A prefeitura não concorda, afirma que um projeto de castração exigiria um grande volume de recursos e mantém como ação principal de sua Rede de Defesa e Proteção Animal um sistema de identificação e cadastramento dos animais como forma de criar consciência sobre a responsabilidade da guarda dos animais.
Entre os protetores, muitos já contabilizam mais de cem animais recolhidos. Alguns, que moram em terrenos espaçosos, deixam os animais em suas próprias casas, mas a maioria acaba pagando por ''hoteizinhos'', que oferecem um lar temporário até que o animal consiga ser adotado. Esta última etapa, aliás, conta também com a iniciativa dos ativistas, que trabalham nos finais de semana para organizar feiras de adoção em várias regiões da cidade.
A representante comercial Denise Berdacki atua há uns cinco anos como protetora. Nos três primeiros anos, ela calcula que resgatou cerca de 40 cães a cada ano, em 2010, foram 47 cães e oito gatos e este ano ela já retirou das ruas mais 33 cães. Todos os animais passam por atendimento veterinário, são medicados, vacinados, desverminados e castrados. ''Minha sorte é que eu tenho um espaço grande em casa, e conto com a ajuda da minha família, o marido e duas filhas, para cuidar'', diz ela.

Denise está atualmente com 15 cães em casa, que consomem 100 quilos de ração, o equivalente a R$ 300 por mês. Destes, nove são dela. ''São aqueles que não podem ser doados, porque um é cego, um não tem uma perna, outro tem catarata congênita, outro tem sarna por stress'', revela. Em geral, ela usa ''dinheiro do próprio bolso'' para pagar as contas, mas quando a despesa é muito grande recorre à ajuda de amigos e outros protetores, como fez recentemente para arcar com o tratamento dois cães, ambos resgatados em estado de extrema magreza. ''Se mais pessoas fizessem esse trabalho, ficaria mais fácil para todos. Com o Estado, infelizmente, apesar de pagarmos impostos e termos direito de escolher onde queríamos que o dinheiro fosse aplicado, isso não ocorre''. lamenta.

O problema, segundo Tosca, é que o trabalho dos protetores, sozinho, não consegue reverter o problema. ''Como não existe políticas públicas voltadas aos animais, eles atuam como bombeiros. Apagam o fogo, mas logo vem um outro incêndio'', diz.
Calcula-se que existam em Curitiba cerca de 390 mil animais, o correspondente a um para cada seis habitantes. Destes, 49% (191 mil) têm dono, 48% (187 mil) são semi-domiciliados, ou seja, apesar de terem dono passam grande parte do tempo nas ruas, e 3% (11.700) são abandonados.
Um das divergências entre Ongs e Prefeitura é sobre a abrangência para um programa de esterilização eficaz. O coordenador da Rede de Defesa e Proteção Animal de Curitiba, Alfredo Trindade, baseia-se em estudos que mostram que para que o controle da população animal seja efetivo seria necessário castrar 80% da população animal ao ano durante cinco anos, o que significaria, hoje, cerca de 312 mil animais. ''É um número muito elevado, pelo custo médio das castrações, de R$ 120 para fêmea e R$ 90 para machos, o município gastaria R$ 15 milhões por ano'', diz.
As ONGs apresentam outros números. Segundo a presidente do Movimento SOS Bicho, Tosca Zamboni, estudos da Universidade de São Paulo (USP), mostram que se forem castrados 40% dos animais já haveria um controle efetivo. ''O município erra em não fazer nenhum tipo de investimento, ele não tenta fazer nem o possível para diminuir o abandono e o número de animais em risco existentes nas ruas'', diz. Ela ressalta que o setor sabe que não é possível fazer o controle animal em um ano, mas cobra da prefeitura um planejamento crescente anual, com previsão crescente de ações e recursos financeiros dirigidos à castração.
Tosca explica que a prefeitura poderia priorizar, a princípio, os animais semi-domiciliados e abandonados, o que reduziria o público-alvo para 51%, o correspondente a 200 mil animais. A educadora ambiental Laelia Tonhozi lembra, ainda, que os números são ainda menores, pois pelo menos 20% dos cães, hoje, já foram castrados por protetores. ''Se a prefeitura castrasse 30 mil por ano, já teria um resultado efetivo. Hoje ela faz 3,6 mil por ano, quando deveria fazer isto a casa mês'', diz. As ONGs rebatem, ainda, o valor da castração estimado pela Rede, uma vez que hoje, pelos convênios que a prefeitura tem com as ONGs Quatro Patas e Companhia das Pulgas, ela repassa R$ 35 por cirurgia.
''A demanda dos protetores é válida, mas para tomar uma decisão é preciso ter certeza de que o dinheiro investido trará resultados efetivos'', diz o coordenador da rede. Por isso, segundo ele, a Rede prefere trabalhar na linha da conscientização da população sobre a responsabilidade da guarda dos animais, tendo como foco principal um sistema de identificação e cadastro dos animais, que consiste, além do cadastro junto à Rede, feito pelos proprietários, da microchipagem dos animais, o que permitiria a responsabilização dos responsáveis.
A educação da população para guarda responsável é também uma reivindicação das ONGs. ''Mas isso tem que ser desmistificado, não dá para dizer que só a educação vai resolver. É preciso políticas públicas de estado, a longo prazo, que ultrapassem uma gestão'', diz Tosca, lembrando que além de educar as crianças, é preciso atingir a população adulta, que toma as decisões.
  A polêmica foi tema de reuniões entre as partes realizadas durante este ano. ONGs e ativistas, reunidos no Fórum de Defesa dos Direitos dos Animais (FDDA), entregaram ao coordenador da Rede, Alfredo Trindade, o resultado de uma pesquisa, respondida pelas ONGs da área e protetores independentes, que mostra o anseio do setor para que o Executivo municipal assuma ações que, hoje, são realizadas com recursos apenas da sociedade civil.
* Nota do Movimento SOSBICHO: Maigue é jornalista, sindicalista e militante na causa da defesa dos direitos dos animais.
** A mesma Rede de Proteção...de Curitiba, que agora diz que o custo da castração é 90 e 120 reais, distribuiu para uma ONG com quem fez um convênio ( de apenas 900 castrações) Kits castração para animais de 20 kg a 63 reais o custo!!!! Quer dizer eles falam o que convêm, apenas desculpas esfarrapadas!


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