quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Trecho de Entrevista com Peter Singer no Brasil - agosto 2013 - Perguntas pinçadas



Trecho de entrevista do Filósofo australiano Peter Singer, autor do Livro Libertação Animal, entre outros que tratam dos direitos dos animais, para Caderno Cultura – do Jornal Zero Hora – Porto Alegre, publicado em 24 de agosto de 2013.


ZH: A conscientização global a respeito dos direitos dos animais é maior hoje do que quando da publicação de seu livroLibertação Animal?
Singer: 
Sim, aumentou dramaticamente. Quando o livro foi lançado, em 1975, não havia conscientização sobre a agricultura em escala industrial. Mesmo na Inglaterra as pessoas ficaram chocadas em saber das galinhas confinadas em gaiolas minúsculas, dos porcos mantidos enjaulados durante a vida toda. Acho que esses fatos são mais conhecidos agora, e não apenas na Europa e nos Estados Unidos, mas no mundo. Por onde eu viajo, encontro organizações debatendo a questão e tentando promover mudanças. Infelizmente, ao mesmo tempo em que a consciência a respeito cresceu, aumentou também a demanda por carne, ovos e outros produtos de origem animal, por causa do crescimento da população em países como a China, Índia e também Brasil. Há, provavelmente, mais animais sofrendo na agricultura industrial do que em 1975, mas ao menos se pode dizer que a consciência a respeito da questão mudou. Espero que isto seja um primeiro passo para mudanças práticas.
ZH: Há pessoas que, mesmo preocupadas com a questão animal, não fazem nada para mudar seus próprios hábitos de consumo e alimentação. Por quê?
Singer:
 Bem, as pessoas não querem mudar seus hábitos, e se veem que outros mantêm as mesmas atitudes, elas se sentem justificadas em continuar fazendo o que lhes é habitual. É uma daquelas situações em que, se você conseguisse que uma massa crítica de pessoas mudasse, seria fácil fazer com que, senão todos, a maioria os seguisse. Mas é difícil dar esse primeiro passo. Só uma pequena minoria está preparada para agir em acordo com princípios éticos com os animais. E na presente situação, o que vejo é que a maioria das pessoas não está fazendo isso.

ZH: Isso tem alguma relação com o princípio de "altruísmo eficiente" sobre o qual o senhor já escreveu?
Singer: 
Acho que há sim uma conexão. Há um grupo de pessoas que quer viver suas vidas de modo a tornar o mundo um lugar melhor para o maior número de beneficiados. São, tipicamente, preocupadas em agir de modo ético, em usar parte do que possuem em favor dos que têm menos, mas ao mesmo tempo há um grande número de pessoas que ainda não pensa dessa forma e vive de forma mais egoísta ou autocomplacente. Não acho que o movimento do altruísmo eficiente seja grande o bastante para ter o tipo de impacto necessário.

ZH: O que o senhor propõe para mudar a situação na indústria de alimentos? Acha que o vegetarianismo em larga escala seria possível hoje?
Singer: 
Penso que, definitivamente, seria possível hoje. Há muitas pessoas vivendo uma vida saudável como vegetarianos, e as evidências mostram que essa é uma opção mais favorável ao meio ambiente, mais sustentável, e, obviamente, não envolve o sofrimento de animais. Logo, é claro que é possível. A pergunta é se as pessoas têm vontade de fazer com que seja possível. Estamos desenvolvendo mais e mais alternativas ao consumo de produtos de origem animal. Acho que, no fim, as pessoas acharão mais fácil evitar esses produtos porque terão ao seu alcance um número maior de alternativas daquilo que gostam de comer.




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