Durante estes últimos 20 anos em que a preocupação com a garantia dos direitos dos animais entrou na agenda de seus defensores, como reflexo de uma preocupação planetária em torno do reconhecimento de que todos os entes do Planeta (por que não do Universo) devem ser respeitados em seus interesses e necessidades, um pouco se avançou neste solo curitibano. Mas muito pouco.
No nível legislativo, podemos reconhecer avanços: temos leis que fazem previsões de campanhas de controle ético de populações de cães e gatos; temos lei que regulamenta o uso de animais de tração; que instituem campanhas de educação em guarda responsável e animais; que proíbe que animais sejam utililizados em espetáculos circenses ou congêneres; que animais sejam sorteados ou dados como prêmios; que animais sejam expostos para composição de ambientes, em eventos artístiscos ou de qualquer gênero que não tenha o caráter específico de exposição de animais; que proíbem a venda de animais em eventos que não sejam criados para este fim específico; lei que prevê a educação do cidadão na convivência com os pombos urbanos; lei que cria regras para o comércio de animais e ainda uma lei que prevê punições a quem comete maus tratos. Sem esquecer que temos uma lei que institui o Conselho Municipal de Proteção aos Animais.
Assim olhado, pode-se avaliar: que avanço !
No entanto, quando se avaliam as políticas públicas criadas para tratar da proteção e à garantia dos direitos dos animais, seja do ponto de vista ambiental, seja do ponto de vista de saúde, vivemos um caos, uma lástima. E quando se avalia do ponto de vista da interlocução da sociedade civil com seus governantes, com os gestores públicos, quanta decepção !
Curitiba mantém um programa mínimo de esterilizações de animais, com o contrato com uma organização não governamental - ONG Quatro Patas, de 3.600 castrações ao ano e mais um contrato com outra organização - Cia. das Pulgas, de 900 castrações (contrato fechado).
Mantém, através da Rede de Defesa e Proteção Animal, um programa de cadastramento e identificação e animais, que o cidadão deverá pagar para ter direito a um microchip implantado no seu animal, a menos que participe de algum evento, em que alguns chips são instalados de graça.
Felizmente, com a criação de órgão dentro da Secretaria de Meio Ambiente, hoje existe uma fiscalização a maus tratos, que funciona a partir de demandas do cidadão. No entanto, a Prefeitura não tem solução ideal para os problemas que enfrenta.
Segundo informações que chegam até nós, 100 animais são mortos hoje em Curitiba. Isto significa, 3000 ao mês e 36.000 ao ano. Não, não é para controle populacional. Estes animais são encontrados mortos, seja por atropelamento, seja por abandono e morte por inanição, seja por violências (queimados, mutilados, etc).
Isto é muito sério !
Se temos uma média de 450.000 cães neste cidade de Curitiba, temos quase 10% de mortes ao ano ! Isto é o que tínhamos quando os animais eram recolhidos e mortos na câmara de gás, prática que ficou o passado, por força de ação da sociedade civil ! No entanto, continuamos no mesmo holocausto ! Repetimos : isto é muito sério !!!
O que é que nosso governos têm feito para mudar este cenário ?
Como temos educado nosso povo ? Temos enfrentado de verdade o aumento da população de animais, cujo descontrole leve ao maltrato e abandono ? Temos efetivamente enfrentado os comerciantes e criadores de animais, que jogam milhares de animais no mercado todos os anos, tranformando seres vivos em mercadorias de muito valor para vender, mas de pouco valor para descartar ?
Temos efetivamente uma política de identificação de animais ? Se assim temos, por que não fazemos disto uma obrigatoridade e de graça para todos aqueles que são tutores de animais e que devem responder pelos seus atos ?
Sem políticas preventivas ao abandono, como vamos obter verdadeiros resultados ? Como vamos mudar a cultura do abandono se não criamos novos valores ?
Quanto do orçamento municipal está previsto para desenvolvimento das políticas para os animais ?
Assim, temos muito pouco a comemorar. Estamos aguardando o diálogo verdadeiro com os gestores, que encastelados e do alto de seus títulos, pouco respeitam aqueles que dedicam suas vidas no cuidado dos animais, que também acumulam experiências e muito, muito conhecimento. Porque também estudaram !
Espera-se que no ano 320 de Curitiba, esta cidade venha efetivamente a enfrentar isto que faz desta cidade uma cidade feia, que nos envergonha todos.
Esperamos que as eleições que se aproximam, sirvam para que os cidadãos curitibanos que respeitam os animais reflitam e saibam escolher bem aqueles que vão fazer o futuro de todos: seres humanos e não humanos.
Largo da Ordem de Curitiba, Setor Histórico Foto: Laelia Tonhozi |
Laelia Tonhozi
Educadora Ambiental - Especialista
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