Laelia
Tonhozi
“Quando
nos deparamos com um animal com risco de morte devido ao espancamento,
lamentamos não apenas por eles, mas pelos humanos que poderão cair nessas mãos
violentas. Violência gera violência.” Regina Becker, Titular da Secretaria
Especial de Direitos Animais de Porto Alegre.
A
violência contra os animais era vista até recentemente como um mal isolado.
Hoje, estudos levam à conclusão de que é necessário investir na educação
humanitária, com valores biocêntricos, para a formação de cidadãos com condutas
éticas que demonstrem valores não contaminados por preconceitos. E que ensinar
a amar e respeitar os animais vai fazer mudar o mundo.
Entenda o porquê.
Estudos
vêm demonstrando que a crueldade com animais é um sinal de alerta e uma
mensagem de identificação de outros tipos de violência contra humanos,
sobretudo contra idosos, mulheres, crianças e deficientes.
Em
1996, uma pesquisadora norte-americana fez estudos
sobre a relação da violência de gênero com a crueldade contra animais. Chegou à conclusão de que num
grupo de 38 mulheres alojadas em abrigos, vítimas de violência por seus
companheiros, 71% das participantes da amostra relatam a ocorrência de ameaças,
ferimentos ou morte de seus animais.
Num
segundo grupo, com uma amostra constituída por 101 mulheres, os resultados
indicaram um índice de 70,3% de narrativas de agressões contra animais,
referendando os resultados anteriormente obtidos. (1).
Em
pesquisa feita do Brasil, no Estado de Pernambuco, no ano de 2010, quando 500
mulheres foram entrevistadas, a Pesquisadora Maria Padilha chegou aos seguintes
resultados: 71% das
mulheres vítimas de violência doméstica, e que tinham animais de estimação,
mostraram que seus parceiros ameaçaram, mataram ou feriram os animais da família,
e 88% das famílias nas quais ocorreram crueldade contra animais, registram
abusos físicos contra as crianças.
“Esta
pesquisa também tem cunho educacional. É importante que pais e professores deem
atenção às pequenas ‘maldades’ que as crianças comentem contra os animais, pois
dessa forma a criança poderá desenvolver quadro de valores distorcidos com
relação à vida”, disse Maria Padilha, que se inspirou nas pesquisas realizadas
nos Estados Unidos e na Europa, e que comprovaram que pessoas violentas com animais
podem ser violentas com seres humanos. “As pesquisas americanas comprovam que
grandes seriais killers começaram suas ações matando animais”, finaliza
Padilha. (2)
Reportagem
na Folha de São de 12 de junho de 2013, nos dá conta de que nove pessoas com 60
anos ou mais são internadas por semana em hospitais públicos em razão de
agressões físicas. (3)
Esta é
só a ponta do iceberg !
Também é fundamental considerar os altos índices de violência
registrados no ambiente familiar e escolar em diversas cidades brasileiras, de
forma que estes indicadores também podem nos oferecer uma “logística reversa”,
ou seja, os indicadores da violência de humanos contra humanos podem estar
escondendo uma invisível violência de humanos contra animais.
Vamos
mudar o mundo ? Que tal começar pelo respeito aos animais ?
1 - ASCIONE,
F. R. Domestic violence and cruelty to animals. Latham Letter, v.17,
p.13-16, 1996
2 - Padilha, M.J.S. Crueldade
com animais X violência doméstica contra mulheres; uma conexão real. Recife,
Fundação Antonio dos Santos Abranches, 2011.
Texto produzido para o Projeto Ponto Final no Abandono
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