segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pinguins já podem voltar à Patagônia

As estudantes de Veterinária Débora e Tatiane se dedicam a reabilitar as aves
REABILITAÇÃO

De um total de 40 animais que chegaram ao Centro de Estudos do Mar, em Pontal do Paraná, apenas seis sobreviveram e estão prontos para retornar ao oceano


Publicado em 25/08/2012 | DIEGO ANTONELLI

Como heróis de guerra que voltam vivos para casa após longa jornada fora, seis pinguins retornarão em breve ao oceano. De um total de 40 animais levados ao Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), eles foram os únicos que conseguiram sobreviver e já estão em condições de voltar ao lar. Depois de passarem aproximadamente 45 dias em tratamento médico e fisioterapia, conseguiram se recuperar da longa e cansativa jornada nas águas geladas do oceano.
Naturais da Patagônia, no extremo sul do continente americano, os pinguins de Magalhães migram durante o inverno para a costa brasileira em busca de alimentos e de temperaturas menos gélidas. Na primavera, as simpáticas aves marinhas retornam ao hábitat natural.
Atividades
Centro é mantido com trabalho de estudantes voluntários
Todo o trabalho realizado no CEM é voluntário. A UFPR cede o espaço físico e a mão de obra é voluntária. Hoje são dez pessoas, entre estudantes de Oceanografia, Biologia e Medicina Veterinária, que se dedicam a reabilitar os animais para que eles possam voltar ao hábitat natural.
O dinheiro para custear a alimentação e os medicamentos dos pinguins sai do bolso dos próprios voluntários ou de doações. Cada pinguim come por dia um quilo de sardinha, o que representa cerca de R$ 30 diários por ave.
Para a estudante do 4º ano de Medicina Veterinária da UFPR Débora Pelim Lima, 36 anos, além de permitir que os conteúdos do curso sejam colocados em prática, a atividade é um exercício de cidadania. “A gente vê como é importante cuidar do bicho e vê-lo voltar à natureza”.
Da mesma forma pensa a estudante do 3º ano Tatiane Moreira, 24 anos. “A gente precisa se cuidar para não se apegar ao bicho. O lugar dele é no mar”, diz.
No entanto, muitos obstáculos provocam um grande índice de mortalidade e danos físicos aos animais, como a pesca predatória – que reduz o número de peixes para a alimentação dos pinguins – e a poluição do oceano. Os seis sobreviventes em questão chegaram ao CEM, em Pontal do Paraná, Litoral do estado, com quadro grave de desnutrição e hipotermia. A temperatura média do pinguim é de 39ºC – abaixo dos 30ºC a chance de sobrevida é quase nula.
O biólogo e pesquisador do CEM Ricardo Krul lamenta que neste ano a perda de animais tinha sido muito elevada. Segundo ele, as causas ainda estão sendo averiguadas. Krul afirma que o trabalho, realizado há quase 12 anos, já conseguiu recuperar 80% das aves que chegaram ao espaço. “Os animais chegaram neste ano com um peso muito abaixo do normal. Geralmente cada pinguim dessa espécie pesa 4 quilos e alguns chegaram aqui com 1,8 quilos.”
Somente dois pinguins chegaram ao centro petrolizados, ou seja, cobertos por manchas de petróleo. “O petróleo funciona como uma espécie de casaco cheio de furos. Dessa forma as penas não conseguem isolar o corpo dos pinguins da água, causando hipotermia”, explica o pesquisador.
Tirar o óleo preso nas penas das aves não é nada fácil. Primeiro é necessário estabilizar a temperatura dos animais e alimentá-los. Depois de aproximadamente duas semanas é dado um banho com água morna e detergente neutro. “Tem de esfregar muito para tirar”, diz Krul.
Calor
Ao contrário do imaginário popular, o pinguim debilitado precisa ser aquecido. Krul relata situações em que animais com quadro de saúde extremamente frágil foram colocados em caixas com gelo e até dentro de geladeira. Todos morreram. “O animal vem para cá em busca de temperatura mais amena. Se está com hipotermia, não posso colocá-lo num freezer”, afirma. A recomendação é que as aves sejam aquecidas e encaminhadas, por meio de órgãos competentes (Polícia Ambiental ou Corpo de Bombeiros), para um espaço de reabilitação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário