Este relato foi feio por Luciana Kimi que é membro do Movimento SOSBICHO
Quando fiquei sabendo que eu havia sido selecionada pra trabalhar como voluntária na Rio+20, fiquei extasiada. É claro, a viagem sairia um tanto cara, mas era uma oportunidade única: eu teria a chance de participar e, mais do que isso, colaborar para a realização da maior conferência internacional sobre desenvolvimento sustentável dos últimos tempos, o que me possibilitaria conhecer o trabalho de inúmeras ONGs e associações, além de acompanhar de perto o desenvolvimento das negociações da Cúpula de Alto Nível, ou seja, das delegações e representantes oficiais dos Estados membros da ONU – estariam todos lá, discutindo e trabalhando juntos em prol da sustentabilidade, da erradicação da pobreza e por um novo modelo de sociedade que nos possibilitaria uma maneira mais saudável de nos relacionarmos com o meio ambiente. Tinha tudo pra ser uma experiência incrível!
No entanto, como noticiado nos jornais, a conferência deixou muito a desejar, especialmente para os ambientalistas e para a sociedade civil. O documento final, intitulado "O Futuro que Queremos", foi repudiado pela sociedade civil por ser considerado ineficiente para tratar de maneira concreta as várias questões socioambientais que se impõem na nossa atual realidade de consumo desenfreado e destruição da natureza. Severn Suzuki, a menina que ficou famosa ao discursar para os líderes mundiais na Eco92, e que voltou para participar da Rio+20, desabafou: “Por todo o lado vejo jovens desesperados, perguntando o que podemos fazer, como podemos salvar o planeta. Precisamos dizer ao mundo que o nosso sistema de governança e representantes falharam em assinar um documento vazio como esse. Não sou mais tão jovem quanto era em 92, mas agora sou mãe e pretendo trabalhar o resto da minha vida para buscar que as próximas gerações tenham, de fato, o futuro que queremos”.
Porém, há que se considerar, também, que o documento final, apesar de pouco ambicioso, pelo menos tem o mérito de estabelecer um consenso entre os países signatários e firmar o compromisso com a busca pela sustentabilidade em meio a uma conjuntura pouquíssimo favorável, que é a da crise atual. É um começo, como a Dilma falou: "um ponto de partida, e não de chegada". Vamos torcer para que desse ponto de partida se consiga ir mais longe do que se conseguiu entre os dias 20 e 22 de junho deste ano.
Conferência oficial à parte, o mais legal mesmo, na minha opinião, foi a Cúpula dos Povos, que ocorreu paralelamente à Rio+20 e teve várias manifestações, palestras e debates organizados pela sociedade civil. Tinha de tudo: tendas e mais tendas abrigando representantes de movimentos e entidades que lutam em defesa das mais variadas causas e pelos mais variados motivos, trabalhando para a conscientização da população e para o despertar do exercício de cidadania entre os indivíduos. Uma das que mais chamou a atenção foi a manifestação de tribos indígenas, que estavam presentes na Cúpula para exigir e lutar pelos seus direitos – e também para vender artesanato, afinal, é preciso sobreviver em meio à voracidade da atual sociedade mercantilista que com tanto descaso ainda trata as suas populações indígenas.
Enfim, a Cúpula foi para mim um evento extremamente rico e cheio de possibilidades, que me inspirou e me fez acreditar que é, sim, possível, conquistarmos o futuro que queremos. Só que temos que ter em mente que ele não virá dos nossos governantes, e sim de cada um de nós.
01) A Arena Socioambiental, que teve como proposta promover o diálogo entre o governo federal e a sociedade civil sobre temas ligados ao desenvolvimento social e ambiental.
02) Tenda do Greenpeace, com demonstrações de equipamentos capazes de captar energia solar e utilizá-la para a exibição de vídeos e até mesmo para fazer pipoca!
03) Exposição "Eu sou Nós" no Museu de Arte Moderna.
04) Exibição de desenhos de crianças brasileiras e japonesas sobre o tema do desenvolvimento sustentável.
05) Índios expondo e vendendo artesanato no Aterro do Flamengo, onde ocorreu a Cúpula dos Povos.
06) Estátuas exibidas durante manifestação na Cúpula dos Povos.
07) Obra de Vik Muniz retratando a Baía de Guanabara, feita a partir de lixo reciclável levado pelo público durante a Rio+20.
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