Matheus Lombardi
Do UOL, no Rio
- Júlio César Guimarães/UOLO teólogo Leonardo Boff discursa na primeira plenária da Carta da Terra durante a Cúpula dos Povos
Ser aplaudido de pé por uma plateia apaixonada não é um direito reservado apenas aos grandes astros e celebridades do mundo pop. Com um estilo mais "povão", sem frescuras nem seguranças, o teólogo e escritor Leonardo Boff foi um dos mais celebrados participantes do evento paralelo à Rio+20, a Cúpula dos Povos.
O UOL acompanhou Boff em duas apresentações distintas, em dias diferentes, porém com o mesmo resultado: plateia cheia, salva de palmas a cada pausa no discurso e um público emocionado.
A principal diferença entre Boff e os chefes de Estado que participam da Rio+20 pode ser percebida nas pessoas que os cercam: enquanto os presidentes seguem em comitivas escoltadas por policiais, o teólogo podia ouvir ao fundo, enquanto discursava, dezenas de jovens cantando o sucesso "Age of Aquarius", do grupo norte-americano The Mamas and The Papas, uma das músicas ícone do movimento hippie.
A Cúpula dos Povos reúne um público variado, de hippies a religiosos, passando por indígenas e ativistas sociais, em eventos abertos ao público.
Expulso da Igreja Católica
O teólogo, que foi expulso da Igreja Católica nos anos 1980, por criticar a hierarquia da religião, é um dos maiores críticos brasileiros ao comportamento recente da Igreja e um expoente da Teologia da Libertação, movimento político cristão que teve início entre as décadas de 1950 e 1960.
Crítico feroz do documento da Rio+20, o qual classificou como "materialista e miserável", Boff defende um futuro mais harmonioso e justo para todas as pessoas.
"Vivemos num mundo cruel e sem piedade. Nunca tivemos tanta barbárie no mundo em todos os tempos. As maiores vítimias são os pobres que morrem antes do tempo, com fome e com sede", declarou Boff durante um evento nesta quinta-feira (21).
Fãs declaram admiração
O teólogo, que é uma espécie de líder ecumênico da esquerda brasileira, falou durante a Cúpula dos Povos para seu "público-alvo". E se existia alguma oposição ou crítica, esta era feita de forma velada.
"Assistir a uma palestra de Boff é ter uma chance de refletir em um mundo cada vez mais rápido e imediatista", disse a professora Dulce Maria Ferraz, 49, que participou da Cúpula e assistiu de pé ao discurso.
Já o estudante de ciências sociais Marcos Araújo, 22, tinha a primeira oportunidade de ver o "mestre" de perto.
"Ele é um sábio. Tudo o que diz é muito profundo e toca a todas as pessoas, independente de religião. Eu já li alguns livros dele e acho muito importante termos pessoas contestadoras desta forma para construir uma sociedade melhor do que essa que temos", afirmou.
Um dos principais pensadores da Carta da Terra, declaração de princípios éticos, Boff é autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Ecologia e Espiritualidade, traduzidos em diversos idiomas.
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