quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Corredores de matas podem evitar extinção dos macacos muriquis



Recompor uma floresta é muito complicado. Os corredores de matas são a esperança dos biólogos.

André JunqueiraSanta Maria do Jetibá, ES
Derrubar árvores é rápido, mas recompor uma floresta e repovoar a área é muito complicado. Os corredores de matas são a esperança dos biólogos para evitar a extinção dos maiores macacos do Brasil e do continente americano.
Os biólogos preparam o dardo com sedativo, apontam e atiram. Minutos depois a fêmea adormece. Parece uma caçada, mas essas cenas hoje fazem parte do ritual de acasalamento dos muriquis, os maiores macacos das Américas. “É uma pena que tenha de ser feito dessa forma, porque é muito custoso e difícil de fazer”, diz o professor da UFES e coordenador do Projeto Muriqui-ES Sérgio Lucena.
A situação é tão complicada que os pesquisadores tiveram que literalmente dar uma carona para a fêmea do macaco muriqui. O animal foi colocado em uma caixa e levado para outro ponto da mata para que encontrasse outros parceiros e pudesse iniciar o processo de reprodução. Os biólogos esperam que a fêmea acorde e depois a soltam perto de um outro bando.
“Quando uma fêmea de muriqui está na fase de acasalamento, ela se desloca do grupo e procura outro grupo, outro macho para fazer uma família”, explica o agricultor Gerson Berger. A fuga das adolescentes evitava o cruzamento entre parentes e o surgimento de problemas genéticos. Entretanto, manter esse costume está cada vez mais difícil.
Hoje em Santa Maria de Jetibá há o registro de 120 macacos muriquis. O problema é que os animais estão isolados em fragmentos de mata. Se a fêmea procurasse parceiros em outras áreas da floresta certamente encontraria muitos obstáculos.
Quando atravessam áreas abertas elas viram presas fáceis para cachorros ou caçadores. As que sobrevivem, podem se perder e ser condenadas a viver em matas sem macacos. “Elas abandonam grupo natal e ficam vagando solitárias, até o resto da vida, sem se acasalar. São indivíduos perdidos do ponto de vista da natureza”, fala o coordenador.
Santa Maria do Jetibá tem a maior cobertura de Mata Atlântica do Espírito Santo. “A mata triplicou nos últimos 40 anos. Isso representa cerca de 35% a 36% da cobertura formada por pequenas ilhas de florestas”, comenta a bióloga do projeto Luana D’Avila Centoducatte.
Mas hoje, só os pássaros e insetos circulam entre essas áreas. A pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo faz parte do Projeto Muriqui. Ela mapeou todo o município e explica que a saída é formar corredores de mata para permitir que os animais circulem livremente entre os bosques.
O projeto ganhou apoio da garotada. Na escola pública também tem aula fora de sala. Em vez do caderno e lápis, bota e enxada, os alunos trabalham pesado plantando corredores de matas. Os agricultores também aderiram em peso. Gerson já plantou oito mil mudas árvores nativas.
Os pesquisadores estimam que quando o Brasil foi descoberto havia mais de um milhão de macacos muriquis no país. Hoje há pouco mais de dois mil.

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