quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Leitura nos olhos dos outros



Publicada no Jornal Folha de São Paulo, 06 de novembro de 2012.


ROSELY SAYÃO

Se ler é bom, por que nós, adultos, lemos tão pouco? No Brasil, a média por pessoa é de só um livro por ano
Recentemente foi comemorado o Dia Nacional do Livro. A data lembrou a importância da leitura na vida das crianças e de todos nós.
Esse é um bom motivo para refletirmos sobre a contribuição que o mundo adulto dá para que os mais novos tenham a chance de desenvolver o gosto pela leitura.
Primeiramente, é bom reconhecer que temos uma posição bastante moralista a esse respeito. Famílias e escolas repetem à exaustão que ler é uma coisa boa.
Desde os primeiros anos escolares até o último ano do ensino básico, a lista de livros obrigatórios é enorme.
Mas será que ler é mesmo bom? Se é, por que temos de repetir tanto essa recomendação e nem assim conseguimos resultados?
Talvez porque obrigação não combine com prazer e ler deveria ser uma questão de prazer. Muita gente se preocupa em desenvolver o hábito da leitura. Prova disso é que nossas crianças ficam com a agenda abarrotada de coisas para ler.
Entretanto, hábito é coisa bem diferente de vontade. Em relação à leitura, o que podemos fazer é plantar nos mais novos a vontade de ler, mostrando as emoções que essa experiência proporciona.
A segunda questão que temos é a seguinte: se ler é tão bom assim, por que é que nós, os adultos, lemos tão pouco? Pesquisas mostram que o índice de leitura espontânea no Brasil é de pouco mais de um livro por ano! Muito pouco, quase nada, na verdade.
Isso significa que, depois que o jovem sai da escola, ele simplesmente deixa de ler.
O que podemos fazer para que os jovens encontrem seu próprio caminho no mundo dos livros? Para que desenvolvam um gosto verdadeiro pela leitura?
Os pais podem, por exemplo, ler e contar histórias para os filhos pequenos. Muitas famílias já cultivam o momento da história, lendo para os filhos de até seis anos antes de a criança se recolher. A questão é que eles não sabem como seguir com esse ritual depois que a criança cresce.
A partir dos sete, oito anos, muitas famílias se rendem aos outros interesses que a criança passa a ter: programas de televisão, internet, videogames, jogos de computador etc.
Entretanto, ouvir e contar histórias para os filhos é um hábito que poderia seguir até o fim da infância como um grande incentivador não apenas do gosto pela leitura, mas também como um elemento intensificador das relações familiares.
Depois que a criança ganha fluidez, é hora de pedir para que ela também leia para os pais. Mostrar interesse pelos livros que ela escolhe, ouvir com atenção as histórias que a criança conta sobre sua própria vida e ler ao seu lado são excelentes maneiras de estimular a atividade leitora dos mais novos.
As bibliotecas também poderiam funcionar como locais de incentivo do gosto pela literatura. Para isso, precisariam ser fisicamente mais atraentes, com livros e atividades interessantes. As famílias poderiam incluir a ida à biblioteca como um programa familiar, não é verdade?
Ler sempre -mesmo que por pouco tempo-, comentar sobre os livros que estão lendo e incluir alguns exemplares na bagagem das férias são atitudes que os pais podem adotar para mostrar aos filhos, na prática, que ler é bom de verdade.
E as escolas? Essas têm um enorme potencial para desenvolver com seus alunos o interesse pela leitura. A maioria tem optado pelos caminhos mais fáceis e menos produtivos: responsabilizar as famílias por isso e obrigar os alunos a ler. Poucas são as escolas particulares que têm uma biblioteca atraente.
Aliás, aí está uma boa questão para os pais que procuram escolas para os filhos: visitar a biblioteca escolar e saber como ela é usada por alunos e professores.
E, por falar em professor, quantos deles demonstram aos alunos que têm paixão pela literatura?
Se ler é mesmo bom, vamos provar isso aos mais novos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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