terça-feira, 13 de novembro de 2012

Edifícios de Toronto, no Canadá, viram armadilhas para aves


12/11/2012 - 05h03
IAN AUSTEN
DO "NEW YORK TIMES"
The New York TimesÀ sombra das maciças torres negras da sede de um banco no centro de Toronto, uma bolinha de penugem cinza despencou até a calçada.
Era uma ave da espécie Regulus satrapa que tinha se chocado com o icônico edifício Toronto-Dominion Center em algum lugar lá no alto.
Não existe um ranking das cidades mais mortíferas para as aves migratórias. Mas, quando uma equipe britânica de documentários sobre a natureza quis filmar casos de aves que morriam ao se chocar com vidro, o ornitólogo Daniel Klem Jr., do Muhlenberg College, em Allentown, na Pensilvânia, recomendou a cidade de Toronto. "Lá, possivelmente devido ao número de edifícios e de aves, a situação é mais dramática do que em outros lugares", segundo ele.
São tantas as aves que se chocam contra as torres de vidro da cidade mais populosa do Canadá que voluntários percorrem o distrito financeiro todas as manhãs, em busca delas. Eles levam redes do tipo usado para capturar borboletas para resgatar aves feridas ou recolher as que estão mortas.
O grupo responsável pela patrulha das aves, chamado de Flap, estima que até 9 milhões de aves por ano morrem ao se chocar com edifícios em Toronto. Michael Mesure, que fundou o grupo há 19 anos, certa vez recuperou 500 aves mortas numa única manhã.
O horizonte urbano de Toronto começou a se elevar na década de 1960, formando um paredão de estruturas envidraçadas ao longo das margens do lago Ontario. A barreira se interpõe no meio de várias rotas importantes de vôos migratórios. Os edifícios são as primeiras estruturas grandes que as aves encontram quando voam para o Sul, vindas da natureza selvagem.
Depois de reivindicar que a prefeitura inclua a segurança das aves no código de projeção de edifícios novos, o Flap começou a recorrer aos tribunais para proteger as aves. Está participando de dois processos na Justiça, baseando seus argumentos em leis que visam a proteção de aves migratórias contra a caça e perigos industriais e processando os proprietários dos edifícios.
GAIVOTAS À ESPREITA
Mesure apontou para um bando de gaivotas trepadas em árvores próximas de um edifício de escritórios. Segundo ele, as gaivotas estavam esperando para devorar as aves menores mutiladas ou mortas pelo impacto.
O edifício tem fachada de vidro que desorienta as aves ao refletir as árvores em volta. Enxergando o reflexo como um habitat, as aves voam em sua direção em alta velocidade. Boa parte das vítimas é formada por aves canoras.
Talvez em função da familiaridade com o ambiente urbano, pardais, pombas e gaivotas têm muito menos chances de trombarem com vidro, segundo Klem.
Membros do Flap soltam as aves atordoadas num parque. As aves feridas são levadas a um centro de reabilitação de animais.
Com os locais das mortes assinalados nos sacos de papel em que são guardadas, as aves mortas são colocadas num freezer na sede do FLAP. Embora a migração outonal mal tivesse começado, o freezer já estava quase cheio, contendo desde corujas até colibris.
De acordo com Mesure, um método eficaz, embora pouco apreciado, para reduzir o perigo para as aves, consiste em cobrir a parte externa das janelas até a altura das copas das árvores com filme plástico perfurado (do tipo usado para converter ônibus em painéis publicitários). O grupo constatou que um padrão repetitivo de pequenos círculos é eficaz e provoca menos objeções estéticas.
No caso de edifícios novos, desenhos podem ser gravados no vidro. Uma empresa de vidro alemã está desenvolvendo janelas que, ela espera, vão aproveitar a capacidade das aves de enxergar luz ultravioleta, incluindo no vidro desenhos de alerta que são invisíveis aos humanos.
A última parada feita pelos ativistas naquela manhã demonstrou que não são apenas arranha-céus que são letais. Um chapim e uma trepadeira-azul-do-canadá estavam no chão diante de um pequeno prédio industrial com vidro espelhado azul que refletia um bosque. Enquanto Paloma Plant, uma funcionária do Flap, recolhia as aves, bandos de chapins sobrevoavam a construção, escapando por pouco da colisão.

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