Antonio Scorza/AFP
Degradação significa retirar sem critério as árvores de maior valor comercial e atear fogoLevantamento mostra que enquanto há uma estagnação do corte raso das árvores, cresce de forma assustadora a exploração predatória da madeira
Publicado em 13/10/2012 | AGÊNCIA GLOBONos últimos anos, o desmatamento na Amazônia Legal perdeu fôlego, mas a floresta amazônica pode estar ficando cada vez mais pobre. Levantamento feito pelo instituto Imazon, que monitora as condições da floresta, mostra que, entre agosto de 2011 e julho de 2012, o desmatamento atingiu 1.047 quilômetros quadrados. A degradação acumulada no período, porém, atingiu quase o dobro da área: 2.002 quilômetros quadrados.
Desmatar significa por abaixo todas as árvores, no chamado corte raso. Degradar é fazer a exploração predatória da madeira, retirando sem qualquer critério as árvores de maior valor comercial, ou, simplesmente, atear fogo, fazendo com que a floresta se torne cada vez mais frágil e suscetível a novas invasões.
Controle frágil
Furto de madeira é o crime mais difícil de ser fiscalizado
O furto de madeira é o crime mais difícil de ser fiscalizado na Amazônia Legal. “Quando chegamos no local, já pegamos a madeira cortada”, diz Ana Rafaela Damico, coordenadora da Regional do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) em Porto Velho, responsável por 35 unidades de conservação (UCs) em Rondônia, Acre, Sul do Amazonas e Noroeste do Mato Grosso.
Segundo Ana Rafaela, o anúncio de que a governo iria conceder a Floresta Nacional do Jacundá, em Porto Velho, para exploração de madeira por plano de manejo, que busca reproduzir os prazos de recuperação natural da floresta, fez com que as invasões aumentassem. “Os invasores chegam antes dos concessionários”, diz ela.
Mônia Fernandes, da coordenação Regional de Manaus, responsável por Roraima e a região centro-norte do Amazonas, diz que até mesmo a região, onde não havia tanta pressão de desmatamento, começa a preocupar. “Já registramos desmatamento e queimadas na região da Floresta Nacional do Anauá. Municípios próximos, como Rorainópolis e Caracaraí, estão entre os que mais desmataram”, afirma.
De acordo com Mônia, as ações de fiscalização do Pará e o esgotamento de algumas áreas fizeram com que madeireiras ilegais migrassem para o Sul de Roraima. “É uma área bastante rica e a retirada ilegal de madeira nos preocupa. As unidades de conservação não foram criadas apenas para conservar lugares bonitos. Elas cumprem um papel importante na preservação da biodiversidade, evitando que a floresta se fragmente. Sem elas, não há conexão entre a floresta e vamos criar ilhar isoladas”, explica.
“O desmatamento é o fato consumado. Significa que não haverá mais uma floresta ali. A degradação acontece aos poucos. A floresta, que é densa e úmida, empobrece. As clareiras abertas pelos invasores faz com que o sol alcance a terra, que fica seca e torna a vegetação mais frágil”, afirma Heron Martins, engenheiro ambiental do instituto.
Terras indígenas
Ao contrário do desmatamento, a degradação pode aumentar ou regredir. Quando a natureza tem tempo para se regenerar, sem a permanência do homem, surge a chamada floresta secundária, que recomeça com arbustos pequenos até gerar árvores de médio porte, em quantidade menor de espécies. Os animais de grande porte são afugentados e buscam áreas onde a mata é mais densa.
Segundo o Imazon, mesmo áreas que deveriam estar 100% protegidas, como as terras indígenas, seguem sendo degradadas. Quatro terras indígenas estão entre as 10 unidades de conservação com maior perda de floresta natural entre 2009 e 2011 — TI Awá, (MA), TI Maraiwatsede (PA), TI Sarauá (PA) e TI Alto Rio Guamá (MA/PA). A maior perda foi a da TI Awá, de 3,5% de sua área total no período. Também no Maranhão, a TI Arariboia sofre com a invasão constante de madeireiros.
A perda de biodiversidade é tão grande que os índios dependem de cestas básicas para se alimentar. A caça está cada vez mais distante da aldeia e só pequenos animais são capturados
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