Por Marcus Eduardo de Oliveira,
09.10.2012
Em
decorrência do agravamento da crise econômica na Zona do Euro e da forte
desaceleração da atividade econômica mundial, se as previsões da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) se confirmarem, ao término deste ano teremos
ultrapassado no mundo a barreira dos 200 milhões de desempregados.
Contudo, esse cenário
desolador da economia mundial pode ser atenuado pondo-se em prática algo que
tão urgentemente necessitamos: gerar empregos verdes (green jobs) a partir da
transição para uma economia de baixo carbono; para uma economia que se
desenvolva qualitativamente sem impactar, que cresça moderadamente sem
destruir, que se paute na ética de valores de desenvolvimento sustentáveis,
protegendo a flora, a fauna, reduzindo o consumo de recursos naturais, de energia
e de água.
Isso somente será
possível com a prática de uma nova economia que respeita o meio ambiente e
reconheça a necessidade de reduzir as emissões de gases que provocam o efeito
estufa, respondendo afirmativamente pela geração de empregos em áreas-chave da
sustentabilidade.
Dessa forma, ao menos
uma boa parte da geração de empregos já pode ser encontrada nos empregos
verdes, ou seja, na ocupação de mão de obra que procura proteger e restaurar os
ecossistemas e a biodiversidade (no Brasil já são 3 milhões de postos), com
destaque para a área de energias renováveis, agroecologia, proteção de áreas de
conservação, biocombustíveis e construção civil, usando nesse último caso, de
acordo com estudos da própria OIT, a eficiência energética em prédios residenciais
e industriais, com construções mais inteligentes que usem menos energia, água e
materiais, estando assim em sintonia à ideia de cidades sustentáveis.
Fora isso, dentro da
perspectiva dessa nova economia que obrigatoriamente deve colocar no centro das
decisões a questão ambiental, fazendo a interface entre economia e ecologia,
permitindo com que a atividade econômica gire em torno dos ecossistemas,
derrubando, assim, o cabedal teórico da economia neoclássica que leva em conta
o meio ambiente apenas pela ótica da externalidade, há um amplo conjunto de
atividades que são potencialmente geradoras desses empregos ambientalmente
equilibrados e favoráveis à qualidade de vida.
Essas atividades
necessariamente passam pela descarbonização da atividade econômica. Dentre
essas, destacam-se: a agricultura orgânica (com o desenvolvimento de
compostagens e adubação orgânicas – transformação de resíduos em húmus), o
turismo ecológico e de aventura (englobando patrimônios culturais e as belezas
naturais), a reciclagem de resíduos (com a normalização dos catadores de
materiais e criação de cooperativas), o setor de energia solar, atividades de
apoio à produção e manejo florestal (dados da OIT – base 2009 – apontam que
esse setor emprega 12,9 milhões de trabalhadores em todo o mundo), geração e
distribuição de energias renováveis, saneamento, gestão de resíduos,
processamento e distribuição de gás natural, atividades paisagísticas, caça e pesca,
horticultura e floricultura.
Especificamente no
setor de transportes, cabe destacar como bons postos de empregos verdes o
marítimo de cabotagem, por navegação, de travessia, ferroviário de carga,
metroferroviário de passageiros, além da construção de embarcações e estruturas
flutuantes. Outro setor que responde muito bem pela geração de vagas no mercado
de trabalho é o do cultivo da cana de açúcar para produção de etanol;
resguardando-se, nesse caso, os impactos negativos sobre o meio ambiente, tais como
a exaustão dos solos, degradação das matas, assoreamento e a poluição dos rios.
Com isso, os empregos verdes além de contribuírem para a redução de emissões,
melhorando sensivelmente a qualidade ambiental, servem de atenuante aos efeitos
maléficos do desemprego sobre a atividade econômica como um todo.
(*) Marcus Eduardo de
Oliveira é economista e professor, com especialização em Política Internacional
e mestrado em Integração da América Latina (USP).
prof.marcuseduardo@bol.com.br
fonte: www.gazetadopovo.com.br,
em 14.10.2012
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