terça-feira, 16 de outubro de 2012

Programa estadual nos EUA permite que presos trabalhem com cientistas para a criação de espécies de animais ameaçadas de extinção


CIÊNCIA

Matthew Ryan Williams/The New York Times
Matthew Ryan Williams/The New York Times /
BIOLOGIA

Sapolândia

Programa estadual nos EUA permite que presos trabalhem com cientistas para a criação de espécies de animais ameaçadas de extinção
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Publicado em 13/10/2012 | THE NEW YORK TIMES
O passarinheiro de Alcatraz ficou famoso. Mas os criadores de sapos de Cedar Creek são conhecidos apenas pelo minúsculo mundo dos estudiosos de anfíbios. Ao menos por enquanto.
Mat Henson, de 25 anos, foi sentenciado a quatro anos e meio por assalto à mão armada e seu colega pesquisa­­dor, Taylor Davis, de 29 anos, veio para o Centro de Cor­­re­­ção de Cedar Creek, no estado de Washington, por roubo de carros. Neste ano, os dois criaram cerca de 250 sapos malhados do Oregon no pátio da cadeia.
Matthew Ryan Williams/The New York Times
Matthew Ryan Williams/The New York Times / Prisioneiros cuidam de horta no Centro de Correção de Cedar Creek, em Littlerock, no estado de Washington. Programa estadual permite que prisões se tornem mais autossuficientesAmpliar imagem
Prisioneiros cuidam de horta no Centro de Correção de Cedar Creek, em Littlerock, no estado de Washington. Programa estadual permite que prisões se tornem mais autossuficientes
250 sapos malhados do Oregon foram criados por presos que participam do projeto “Sustentabilidade na Prisão”
Trabalhando ao lado de biólogos, Henson está ajudando a escrever um curso científico para outros criadores de sapos, estejam eles dentro ou fora da prisão. Um ex-detento que participou do programa e foi solto há alguns anos está terminando sua tese de doutorado em biologia molecular.
Quando questionado sobre seus planos após ser solto em 2014, Henson parou por­­ um segundo e respondeu:­­ “Bio­­engenharia”.
O programa estadual que ajudou a ligar os pontos­­ – ou seja, os prisioneiros­­ e os sapos – chama-se “Susten­­tabilidade na Prisão”. Nos Es­­tados Unidos, esse é o único programa que utiliza prisioneiros para ajudar a recuperar espécies ameaçadas de extinção, como o sapo malhado do Oregon. Entretanto, é difícil saber quem está realmente sendo salvo com o programa.
“Se pararmos para pensar a respeito, a prisão deveria ser um lugar capaz de fazer mais do que trancafiar pessoas”, afirmou Dan Pacholke, diretor carcerário do estado de Washington, que ajudou a fundar o projeto em 2004, quando era superintendente em Cedar Creek, uma cadeia de segurança mí­­nima com 500 detentos. Ele ainda ajuda a coordenar o programa a partir de seu escritório na capital, Olympia.
O principal objetivo do programa é o de trazer práticas sustentáveis e ecológicas às prisões, à medida que o país tenta melhorar a eficiência e diminuir os custos das cadeias.
Mas o uso da ciência pelo estado de Washington – prisioneiros de quatro cadeias estaduais estão trabalhando em projetos envolvendo sapos malhados (Rana pretiosa), ervas selvagens e borboletas – está resolvendo um problema orçamentário para projetos ecológicos e de restauração de hábitats.
Os presos que estudaram com biólogos do Estado também aprendem uns com os outros e precisam competir para entrar no programa, além de manter um comportamento exemplar para garantir sua vaga. Eles recebem 42 centavos por hora, o salário padrão das cadeias, com turnos de dez horas que frequentemente envolvem tarefas entediantes como monitorar a temperatura da água dos sapos, ou coletar centenas de grilos criados para alimentá-los – um trabalho que estudantes de graduação evitam fazer até mesmo quando recebem salários de verdade.
“Acredito que essa imagem de transformação [do ovo ao girino e, do girino, ao adulto] permite que os presos compreendam sua própria transformação”. disse Carri LeRoy, professora de ecologia no Evergreen State College, em Olympia.
Recentemente, o dia tão esperado por presos e cientistas finalmente chegou a Cedar Creek, quando os sapos deixaram os tanques e foram soltos na natureza, seis meses após seu nascimento. A nova casa dos répteis é Muck Creek, a cerca de 90 minutos dali, próxima à cidade de Olympia.
Fonte: www.gazetadopovo.com.br, em 13.10.2012

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