Ação desregrada e barulhenta do homem nas águas do planeta
gera baleias surdas, golfinhos desorientados, moluscos que
desaprendem a se defender e trutas "viciadas"
Juliana TiraboschiGRITOS DE ALERTA
Baleias como as belugas mudam a “voz” em áreas
ruidosas e algumas até apresentam perdas auditivas
Em 2000, um massacre aconteceu nas Bahamas. Dezesseis baleias e um golfinho encalharam na praia e morreram após a Marinha americana realizar um teste com um sonar, uma operação que pode produzir um volume de som de 235 decibéis, 85 dB a mais que os gerados pela decolagem de um jato. Pesquisadores do Instituto Earthwatch (EUA) encontraram danos internos nos animais relacionados com a exposição a esse tipo de barulho. A própria Marinha admitiu que o teste pode ter influenciado no encalhe em massa. Esse é só um exemplo de como atividades humanas nas águas do planeta estão desorientando, ensurdecendo, enlouquecendo e até drogando a fauna aquática.
Nenhum curso d’água fica de fora. Nos oceanos, o maior problema é o mesmo barulho que provocou o massacre acima. Além das embarcações, a poluição sonora pode vir de obras nas orlas e de atividades portuárias. Cetáceos, como baleias e golfinhos, vivem em grupo e usam vocalizações para se comunicar. É assim que encontram alimento e acasalam. Se há falhas nessa “conversa”, sua sobrevivência é posta sob risco.
Nenhum curso d’água fica de fora. Nos oceanos, o maior problema é o mesmo barulho que provocou o massacre acima. Além das embarcações, a poluição sonora pode vir de obras nas orlas e de atividades portuárias. Cetáceos, como baleias e golfinhos, vivem em grupo e usam vocalizações para se comunicar. É assim que encontram alimento e acasalam. Se há falhas nessa “conversa”, sua sobrevivência é posta sob risco.
Uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia (a Penn State, nos EUA), publicada em 2010, mostrou que baleias-francas mudam a frequência de suas vocalizações para compensar o ruído de embarcações. O mesmo fenômeno já foi detectado em belugas e orcas e, no Brasil, em toninhas – também conhecidas como golfinhos-do-rio-da-prata. Segundo Marta Cremer, professora de ciências biológicas da Universidade da Região de Joinville (Univille) e coordenadora do Projeto Toninhas, é difícil medir se e quanto a poluição sonora altera os comportamentos. Mas gravações feitas por sua equipe mostram que, quando há barcos por perto, os golfinhos emitem um som mais agudo. Além de atrapalhar a comunicação, os pesquisadores acreditam que o barulho excessivo pode provocar surdez. Em humanos, uma exposição prolongada a 80 dB (o equivalente ao som de um liquidificador) pode causar perdas auditivas. Alguém que trabalhe oito horas diárias em ambiente com um barulho desse terá a audição prejudicada em alguns anos. Um cargueiro emite ruídos de até 150 dB. “Além disso, achamos que esse barulho causa desgaste físico e estresse”, diz Marta.
A Universidade Estadual Paulista (Unesp) também investiga o nível de ruído no litoral de São Paulo. Por enquanto, o trabalho está focado em identificar as características das fontes de som nas águas: ventos, turbulências, abalos sísmicos e barulhos emitidos por animais. A “assinatura acústica” de uma praia arenosa é diferente da encontrada em um costão rochoso. Esse conjunto de sons ajuda os bichos a se orientar. “Nosso objetivo é identificar as fontes de som, compará-las e estudar a importância delas para as espécies”, diz Mario Rollo, professor do Campus Experimental do Litoral Paulista da Unesp.
Barulho não é o único problema. Uma pesquisa da Universidade James Cook, na Austrália, mostrou que o dióxido de carbono, emitido na queima de combustíveis fósseis, está deixado os peixes “loucos”. O pesquisador Philip Munday levou para seu laboratório diferentes espécies – entre elas, o peixe-palhaço, o “Nemo” – e as expôs a um nível de CO2 de 850 partes por milhão, concentração prevista para 2100 se não reduzirmos as emissões. Ao devolvê-los para o mar, o cientista observou que a mortalidade multiplicou-se por nove. Esses peixes costumam se proteger entre corais. Mas, intoxicados, nadavam a distâncias mais longas, se expondo a predadores. “Acreditamos que o CO2 afeta a transmissão de estímulos neuronais no cérebro”, diz Munday.
A Universidade Estadual Paulista (Unesp) também investiga o nível de ruído no litoral de São Paulo. Por enquanto, o trabalho está focado em identificar as características das fontes de som nas águas: ventos, turbulências, abalos sísmicos e barulhos emitidos por animais. A “assinatura acústica” de uma praia arenosa é diferente da encontrada em um costão rochoso. Esse conjunto de sons ajuda os bichos a se orientar. “Nosso objetivo é identificar as fontes de som, compará-las e estudar a importância delas para as espécies”, diz Mario Rollo, professor do Campus Experimental do Litoral Paulista da Unesp.
Barulho não é o único problema. Uma pesquisa da Universidade James Cook, na Austrália, mostrou que o dióxido de carbono, emitido na queima de combustíveis fósseis, está deixado os peixes “loucos”. O pesquisador Philip Munday levou para seu laboratório diferentes espécies – entre elas, o peixe-palhaço, o “Nemo” – e as expôs a um nível de CO2 de 850 partes por milhão, concentração prevista para 2100 se não reduzirmos as emissões. Ao devolvê-los para o mar, o cientista observou que a mortalidade multiplicou-se por nove. Esses peixes costumam se proteger entre corais. Mas, intoxicados, nadavam a distâncias mais longas, se expondo a predadores. “Acreditamos que o CO2 afeta a transmissão de estímulos neuronais no cérebro”, diz Munday.
Problema parecido aconteceu com uma espécie de lesma-do-mar conhecida por “abalone chileno”, ou “loco”. Esse molusco é capaz de perceber a presença de caranguejos predadores e fugir. Quando exposto a águas mais ácidas, perde essa habilidade. “Nossas emissões de CO2 estão baixando o pH do mar, aumentando a sua acidez”, diz o pesquisador Patricio Manriquez.
Como se não bastassem essas perturbações, ainda estamos drogando nossos peixes. Uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, encontrou níveis significativos de fármacos usados em antidepressivos nos fígados, cérebros e músculos de trutas-das-fontes. Resíduos desses medicamentos saem do organismo dos pacientes e vão parar nos esgotos, que por sua vez seguem para os rios. O estudo constatou que essa exposição causa alterações nas atividades neurais, mas ainda não se sabe quais são as consequências dessas mudanças.
Para minimizar esses problemas, não é preciso interromper atividades importantes para a economia. Incentivar fontes alternativas de energia, desenvolver motores silenciosos e estabelecer algumas zonas livres de ruídos, além de melhorar nossos sistemas de tratamento de água, são medidas que já ajudariam a dar mais paz e sanidade aos bichos.
Como se não bastassem essas perturbações, ainda estamos drogando nossos peixes. Uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, encontrou níveis significativos de fármacos usados em antidepressivos nos fígados, cérebros e músculos de trutas-das-fontes. Resíduos desses medicamentos saem do organismo dos pacientes e vão parar nos esgotos, que por sua vez seguem para os rios. O estudo constatou que essa exposição causa alterações nas atividades neurais, mas ainda não se sabe quais são as consequências dessas mudanças.
Para minimizar esses problemas, não é preciso interromper atividades importantes para a economia. Incentivar fontes alternativas de energia, desenvolver motores silenciosos e estabelecer algumas zonas livres de ruídos, além de melhorar nossos sistemas de tratamento de água, são medidas que já ajudariam a dar mais paz e sanidade aos bichos.
Foto: Andrey Nekrasov/VWPics
http://www.istoe.com.br/reportagens/243442_DEU+A+LOUCA+NOS+MARES
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