Com roupa pink e métodos originais, indiana lidera
grupo que luta por direitos em uma das regiões mais
miseráveis de seu país
IARA BIDERMAN
Seu uniforme é um sari (vestimenta feminina indiana) rosa-choque. Sua arma, um "lathi", bastão de bambu usado em artes marciais na Índia. Seu objetivo: combater a injustiça social, a corrupção e a violência contra a mulher, incluindo o casamento de meninas.
Essa é a indiana Sampat Pal Devi, 54, fundadora da Gulab Gang (gangue rosa-choque), um movimento feminista fora dos padrões.
Devi estará no dia 30 no Rio de Janeiro para participar do seminário "Mulheres reais que transformam", um projeto da jornalista Ana Paula Padrão e da empresária Tatianna Oliva.
COM AS PRÓPRIAS MÃOS
Bem antes de as militantes do Femen causarem furor com seus métodos pouco convencionais de protesto, Devi surpreendeu a população do vilarejo onde mora, no Estado de Uttar Pradesh, norte da Índia, ao enfrentar com as próprias mãos e um bastão um homem que espancava sua mulher -prática habitual na região, uma das mais pobres do país.
Devi pediu ao sujeito que parasse de maltratar a esposa, mas não foi atendida. Reuniu então um pequeno grupo de mulheres. Juntas, elas deram uma surra no agressor.
Estava formada a gangue e sua estratégia de ação, que é pedir o fim de algo considerado abusivo ou injusto e, se a reivindicação não for ouvida, levantar seus bastões -e usá-los, se necessário.
"Não usamos os 'lathies' para praticar a violência. É só para mostrar nossa desaprovação e a nossa coragem. Mas, se for para salvar alguém ou nos proteger, vamos usar", disse Devi à Folha.
A líder da gangue rosa-choque, filha de camponês, não teve quem a socorresse quando foi dada em casamento aos 12 anos. Aos 15 nasceu seu primeiro filho e, aos 20, já era mãe de cinco crianças.
Para ajudar a criá-las, Devi começou a trabalhar no serviço público de saúde. Abandonou o emprego para batalhar por sua causa -e a das outras mulheres.
A estreia oficial da gangue, contra o marido violento, foi em 2006, com pouco mais de uma dezena de mulheres. Em 2008, o movimento tinha 500 militantes. Hoje, são cerca de 20 mil, incluindo homens.
Além de simpatizar com o movimento das mulheres, os homens estão lá porque a gangue tornou-se ativa na defesa dos direitos de toda a população contra corrupção, abuso de autoridade etc.
"Há dois tipos de injustiça: a do governo e a da sociedade. Se for do governo, a gangue vai mostrar seus bastões para quem for a maior autoridade, até conseguir uma resposta", diz Devi.
Entre outras coisas, o grupo sequestrou um caminhão com doações de alimentos que estavam sendo desviadas por funcionários do governo para serem vendidas no mercado.
A participação de Devi deve causar impacto no seminário "Mulheres reais que transformam".
"Quando você traz uma mulher que radicaliza a maneira de lutar por seus direitos como a Sampat Devi, você chacoalha o público. As pessoas precisam sair de sua zona de conforto e começar a agir", diz a jornalista Ana Paula Padrão, da TV Record.
MULHERES REAIS QUE TRANSFORMAM
QUANDO: 30/10, das 9h às 14h
ONDE: Sheraton Rio, av. Niemeyer, 121, Rio de Janeiro
CONTATO: tel.: 0xx/11/3038-0160; e-mail:mulheresreaisquetransformam@crossnetworking.com.br
Fonte: www.folhadesãopaulo.com.br, em 23.10.2012
Fonte: www.folhadesãopaulo.com.br, em 23.10.2012
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